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quarta-feira, 25/06/2025 | Ano | Nº 5996
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O tsunami, a onda e o equilíbrio

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Convidado a proferir conferência na Academia do Reino do Marrocos, compareci com especial entusiasmo. O Brasil possui status de parceiro privilegiado com esse país norte-africano, onde mantém há mais de cinquenta anos uma embaixada em funcionamento. A Academia ? instituição de estudos de referência internacional ? escolheu como objeto de reflexão uma temática latino-americana. O Marrocos dá sinais de fortalecimento das relações com o nosso País. Daí, formulei o tema ?A América Latina e o horizonte da globalização ? percurso de navegantes ou de náufragos??. Neste contexto, destaquei o peso do Brasil, que está exatamente no exercício do seu solft power. Eis o grande papel que o País pode desempenhar, por exemplo, para consolidar o Brics, melhor representando o nosso continente no jogo do poder entre as potências globais. Na audiência, constituída por autoridades de governo, líderes classistas, representantes do setor produtivo e pela imprensa marroquina, optei por uma explanação em três etapas. Primeiro, efetuando radiografia histórica da América Latina, da saga de seus libertadores à Guerra do Paraguai. Desde então não se verifica mais conflito em nossa região, que vive em paz há quase 150 anos. Na segunda etapa, examinei a globalização e o futuro da América Latina, com suas certezas e incertezas. Do ponto de vista do Brasil, revisitei a trajetória recente de nossa história, culminando com a redemocratização, a Constituinte de 1988 e a eleição do primeiro presidente da República pelo voto direto, após 21 anos de governo militar. Expressei meu orgulho de ter desencadeado um processo de modernização, liberalização e integração dos mercados. Assim nasceu o Mercosul, em cujo movimento fui signatário do País no Tratado de Assunção, em 1991. Década difícil. Em linhas gerais, a América Latina convivia com a instabilidade financeira global, tendo como consequência a queda dos indicadores sociais, do aumento do desemprego e da lentidão do crescimento econômico. Na Academia do Reino, lancei uma pergunta: ?A América Latina pode assumir um papel de protagonismo e independência no cenário internacional?? Parece-me que sim, antecipei a resposta. Para que isso aconteça, inicialmente, é preciso que as elites dirigentes latino-americanas reconheçam, de uma vez por todas, a inexorabilidade da globalização, um fenômeno irreversível, gostemos dele ou não. Some-se a isso a necessidade de entendimento de uma quadra internacional marcada pelo protecionismo, pela ruptura tecnológica e pelo combate à corrupção. Francis Bacon, filósofo inglês, foi categórico ao afirmar que ?o conhecimento é poder?. A globalização é resultado maior do encurtamento do espaço e da redução do tempo, fruto do avanço da tecnologia e da inovação. É, portanto, consequência da conquista de poder pelo conhecimento. Assim, de nada adianta a singela retórica de negá-la ou a teimosa atitude de combatê-la. Afinal, o mundo é tudo o que acontece; é o conjunto dos fatos, não das coisas. A inserção exitosa da América Latina no cenário internacional passa pela maior aproximação com a África. Nesse sentido, as relações com o Marrocos assumem importância mais do que especial, sobretudo a partir do reinado do rei Mohammed VI. O Marrocos é, por assim dizer, a porta de entrada dos países latino-americanos para o mundo árabe e para a África. Temos uma herança cultural comum, que data do tempo em que os árabes ocuparam a Península. A América Latina sempre sofre há séculos os efeitos dos interesses das grandes potências. Ocorre que a globalização oferece oportunidade de transformar a região em um dos principais players do século XXI. É uma grande onda de oportunidades, mas se não estivermos preparados, ela pode se transformar num tsunami devastador, e, aí sim, correremos o risco de nos tornarmos náufragos. Às autoridades do Marrocos, externei minha convicção de que a superação de nossos obstáculos está na integração entre os povos, na drástica redução das desigualdades, na efetividade da educação universalizada e na eficácia do desenvolvimento sustentável. É o papel do momento, ao mesmo tempo básico e inovador do continente latino-americano. Encerrei minha conferência lembrando Montaigne: ?O mundo não passa de um balanço perene?. Sendo assim, entre trilhas pela esquerda e atalhos pela direita, o desafio é encontrar o caminho do equilíbrio e a centralidade do pêndulo.

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