Opinião
O Natal que Maria viveu

Na entrada da gruta de pedras estava uma jovem muito bela, de pé a olhar as estrelas que cintilavam no céu noturno. Via-se seu estado avançado de gravidez, ela mantinha as mãos cruzadas sobre o ventre, como a acariciar o pequeno ser ali guardado. O esposo saíra à procura de lenha e de mantimentos. Fazia frio, apenas uma tocha ardia no interior da gruta onde se encontravam amarrados um jumento e um boi, ao lado de uma manjedoura cheia de capim. O vento sibilava nas frestas de pedra, nos cabelos de Maria, tudo mais era silêncio. E assim murmurava o vento aos ouvidos dela: ? Gentil senhora, há nove meses tu recebeste do mensageiro angélico uma nova de grande responsabilidade. Por acaso, no calmo lar de Joaquim e Ana, na singela aldeia de Nazaré, onde estavas, sabias o que teu sim significava? Desde então tua vida se transformou. Como explicar o ventre que se arredondava aos que te eram tão caros? Todos estavam confusos porque reconheciam em ti a pureza da filha de Sião. Mas outra mensagem do ser angélico, desta vez em sonhos, sustentou o mistério divino que em ti acontecia, ao noivo prometido e à família admirada. O casamento se realizou. Teu lar... uma pequena casa de pedras brancas, como outras da região. Entre amassar o trigo no moinho de pedra para fazer o pão, entre trazer a água do poço no cântaro, entre secar as tâmaras, os figos, os peixes, e mais atividades caseiras, tu fiaste o linho para as túnicas da criança que viria. O linho de flores azuis das pradarias da Galileia. José, teu esposo, a talhar a madeira na oficina ao lado. Mas César Augusto ordenou o recenseamento no seu Império. Tu, da estirpe sacerdotal dos levitas, não precisarias sair da Galileia, mas José pertencia à estirpe real de Davi. Iriam ambos a Belém, cidade de Davi, na Judeia. Uma cansativa viagem através das montanhas, dos olivais, tu sobre o jumento, a criança a mexer no teu ventre. Chegaram, a cidade lotada, não havia lugar nas hospedarias. Maria, tua confiança no Senhor é inabalável! Nada murmuraste, mas esperaste. E agora eis-te nessa gruta fria, sem conforto, falta-te tudo, estás longe de teus pais. Sabes que chegou a hora da criança nascer, mas continuas em paz, a confiar no Senhor! E tantas tormentas te sobrevirão ainda! Só estás no início... só estás no início... ? uivava o vento. Maria se retira, mergulha na escuridão da gruta, solitária em sua dor. Cala-se o vento, faz-se um grande silêncio. Passam-se horas intermináveis. Ali, no canto, reclinada na enxerga de capim, Maria segura seu filho, nascido entre o dia e a noite, inserido na história dos homens, na plenitude dos tempos. Nesse momento, ela o abraça, ela é sua mãe, e o infinito amor que os une abrangerá o Universo de ternura e de paz. José retorna, aproxima-se, sossega ao vê-los tão belos mãe e filho. Vêm os pastores que ali perto guardavam seus rebanhos de ovelhas, eles trazem pães, frutas, lãs de ovelha para aquecer o frio. Contam fatos assombrosos que se confirmam no grande astro a iluminar a noite, nas vozes celestiais a cantar a paz do Senhor para todos que têm o coração simples e puro. Maria soube que iria enfrentar tormentas, quanto ainda não entendia! Guardava todas essas coisas no silêncio de seu coração para meditá-las, mas tinha a certeza de que estaria sempre sob as asas do seu Deus. Com imensa alegria, sorriu docemente para o filho nos braços, unidos no primeiro Natal.