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quinta-feira, 10/07/2025 | Ano | Nº 6006
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Opinião

Sugestão de Ano-Novo

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Tenho para mim que a mera virada do calendário não realizará nenhum milagre em nós. Somente a extinção de 2017, no finalzinho do dia 31 de dezembro, e o alvorecer de 2018, em 1º de janeiro, não serão capazes de alterar os destinos da humanidade nem de modificar o quanto há de imperfeito, de falho e de temerário no nosso eu mais profundo. Ninguém vai dormir de uma maneira e, num passe de mágica, despertar na manhã seguinte despido de tudo aquilo que lhe serve de pedra de tropeço ou de corrente de ferro no percurso da caminhada de cada um. ?O que a vida quer de nós é coragem?, bradou Guimarães Rosa pela boca de um de seus personagens. Que a tenhamos, então, sintonizados com o tempo do amanhecer, do amadurecer das frutas, do sol que vai e da chuva que vem. Aonde nos levará essa corrida sem fim para lugar nenhum, desperdiçando beijos, abraços, declarações de amor e silêncios cúmplices? Vamos absorver os sentimentos bons, identificarmo-nos com as incertezas da vida, deixar de lado o peso do medo, da incerteza, da insegurança e da solidão. Não somente estar presentes, mas ser presentes uns para os outros, aproveitando melhor o tempo de que dispomos para partilhar os afetos que, afinal, fazem o percurso valer a pena. Tempo e espaço estão sempre entrelaçados, e tudo acontece simultaneamente, embora às vezes não percebamos. Ouço Borges: ?O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo?. A profundidade de cada experiência que vivemos é maior, muito maior do que a tirania de um relógio. Quando eu era criança, levantava todos os dias com o piar dos passarinhos que se alvoroçavam nas árvores da calçada, fazendo inveja aos que viviam aprisionados nas gaiolas da venda de Seu Horácio. Desconectado de tantos deveres e afazeres, eu estava em conexão comigo mesmo, desfrutando da natureza que me circundava e que fazia tudo no ritmo certo, sem pressa alguma. Hoje, a saudade do cotidiano simples que eu vivenciei na infância escorre pelos meus olhos em lágrimas de gratidão. O Ano-Novo, mais uma vez, traz consigo a esperança de que não nos esqueçamos da lição do filósofo francês André Comte-Sponville: ?O tempo, em si, não é coisa. Ele é passado, presente e futuro. Mas, se o passado já foi, e o futuro ainda não chegou, arrisco dizer que o tempo é o presente. É essa continuidade?. E que saibamos estar conectados com a essência do agora, que é onde tudo acontece de verdade, ?jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas?, como no belo poema de Mario Quintana.

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