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Mundo inconveniente

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Estava voltando de São Paulo quando fui surpreendido por uma novidade nada agradável. Primariamente um luxo das linhas internacionais, as telinhas atrás dos assentos dos aviões logo migraram também para os paus-de-arara nacionais. A forma de monetizá-las, naturalmente, foi a inserção de propaganda. Nada tenho contra novas opções de entretenimento a bordo, muito pelo contrário, acredito que pode salvar muita gente do lancinante tédio da cabine. Se o comercial aparecesse apenas para quem ligou e conectou seu fone na bendita telinha, tudo bem. Afinal, o serviço é gratuito. Mas a propaganda não parou por aí, nunca para. Sorrateiramente, sem que nos déssemos conta, os anúncios começaram a ser exibidos entre o embarque no avião e a decolagem. Pois agora eles deram um passo além. A novidade agora é que, de uma hora para outra, em intervalos regulares, surge na tela uma propaganda qualquer. No meu caso foi, vejam só, foi uma propaganda de spray para micose. Foi repetida dezenas de vezes. Não poupava ninguém, já que surgia aos berros nos alto-falantes, anteriormente reservados apenas para instruções de emergência, e em todas as telinhas, mesmo naquelas que o passageiro deliberadamente desligou. Se eu que lia fiquei chateado, imagina o colega ao lado, que tentava dormir. A relação da indústria do entretenimento com o marketing costumava ser muito objetiva, a regra era clara, se você pagou pode consumir à vontade, mas se foi de graça, vai ter que aturar propaganda. A TV a cabo foi a primeira a quebrar essa regra de ouro. Sem perceber, fomos aceitando que os canais pelos quais pagávamos exibissem tantos comerciais como a TV aberta. Em seguida veio o cinema, onde, por graça de Deus, os anúncios ainda estão restritos aos momentos antes da ?decolagem?. No caso da música, antes tínhamos a radio e o disco; grátis e com propaganda, pago e livre. Hoje tudo foi substituído pelo streaming, com as mesas duas opções. O que impede, contudo, o Spotify de ir colocando um ou outro recadinho entre as músicas da versão paga? Perderia clientes para os concorrentes? E se todos fizerem igual? Não foi isso que os canais a cabo fizeram? A intromissão da publicidade explora nossa permissividade. Creio que a maioria só vai acordar para o problema quando ele chegar ao novo bastião da classe média brasileira (talvez mundial), o Netflix. Quando perceberem o pesadelo, será tarde demais.

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