Opinião
A passos lentos

Relatório sobre a crise da aprendizagem produzido pelo Banco Mundial com dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) estima que os estudantes brasileiros podem demorar mais de 260 anos para atingir a proficiência em leitura dos alunos dos países ricos. Para que a aprendizagem cumpra a promessa de eliminar a pobreza e criar oportunidades para todos, o Banco Mundial aponta três recomendações de políticas públicas: avaliação da aprendizagem, investimento na estrutura das escolas ? para oferecerem desde a merenda até tecnologia ? e mobilização de todas as pessoas interessadas na aprendizagem, como a comunidade. O relatório aponta casos de países que investiram em estratégias de aprendizagem e tiveram sucesso em avaliações internacionais. Um exemplo citado é a Coreia do Sul, país que foi assolado pela guerra e tinha taxas de alfabetização muito baixas em 1950, mas conseguiu universalizar o acesso de matrículas em 1995 e atingir altos índices em rankings de aprendizagem. Para o Banco Mundial para o Brasil, a educação no Brasil vem melhorando nos últimos anos, mas em passos lentos, numa velocidade na qual demorará muito para alcançar o padrão exigido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A situação se torna preocupante porque, ao mesmo tempo em que há o aumento significativo de recursos e alunos entrando na escola, a melhora na aprendizagem desses alunos é muito menor do que a desejada. Atualmente, no Brasil, 97% dos estudantes com idade entre 7 e 14 anos se encontram na escola. Entretanto, para cada 100 alunos que entram na primeira série, somente 47 terminam o 9º ano na idade correspondente, 14 concluem o ensino médio sem interrupção e apenas 11 chegam à universidade. Para mudar esse quadro, é preciso uma mobilização da sociedade em defesa da educação pública, o direcionamento de recursos financeiros para escolas e professores, a boa gestão desses recursos, a valorização do profissional da educação ? seja no aspecto financeiro seja na formação continuada ? e a implantação de medidas políticas educacionais a longo prazo. Sem isso, o desempenho de nossos estudantes continuará patinhando.