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segunda-feira, 14/07/2025 | Ano | Nº 6009
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Opinião

A procissão

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É mais uma Semana Santa, quando reviveremos o sacrifício de Jesus, sua morte e ressurreição. Como sempre o faço, transfiro a imaginação para a minha cidade natal, Viçosa, onde participávamos intensamente dos atos litúrgicos com obediência e simplicidade. Vai muito distante o tempo em que as férias escolares nessas semanas, tinham início na segunda-feira e se prolongavam até o sábado, quando o calvário de Jesus findava. Alguns dias eram especiais e aguardados com expectativa. Iniciando no Domingo de Ramos, quando as folhas das palmeiras tremulavam em nossas mãos, até o Domingo da Ressurreição, nossos pais e seus onze filhos comungávamos de todos os atos litúrgicos exibidos na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus do Bomfim. Muitas crianças eram convidadas para se vestirem de anjos, outras, representavam figuras bíblicas nos diversos atos ali realizados. Mamãe nos preparava com antecedência, recolhendo penas brancas dos gansos criados para essa finalidade, fabricando asas que pareciam alçarem voos com antecipação. Comprava, na Loja do Povo, metros e mais metros do mais puro cetim, providenciava costureira para confeccionar as túnicas e sapateiro para fabricar rústicas e simples sandálias com duas tiras passando entre os dedos. Como aguardávamos ansiosos esses dias! Enfim, eles iam chegando pouco a pouco, permitindo a cada instante, momentos de expectativa. Na quarta feira à tarde, a Procissão do Encontro era um deslumbramento, quando nos dividíamos por ruas diferentes e nos encontrávamos, por fim, à porta da Igreja. Duas charolas representavam Jesus e sua Mãe Maria, com um lenço entre as mãos, lamentando o sofrimento do seu único e amado filho. Em fileiras intermináveis, num silêncio profundo, íamos seguindo o cortejo: as Irmandades religiosas, Pia União das Filhas de Maria, Coração de Jesus, São José, Cruzada Eucarística, da qual fui secretária durante muitos anos e tantas outras Associações religiosas. Vestidos impecavelmente, seguíamos pelas ruas, onde pessoas se aglomeravam e aplaudiam respeitosamente o cortejo. Na Sexta Feira Santa, acontecia a Procissão do Senhor Morto. Acompanhávamos o Filho de Deus, descido da cruz e coroado de espinhos, sem vida, num ataúde aberto, percorrendo ruas e mais ruas. Cônego Machado e outros padres segurando o Sacrário, no centro dos dois cordões humanos, seguiam em plena adoração. Enfim, após uma semana de penitência, alcançávamos o dia tão esperado: Domingo da Ressurreição, quando Jesus retornava aos céus para junto do Pai. Uma eternidade tenta congestionar essas imagens, que poderiam tornar-se perpétua. No momento em que vivemos, o mundo parece desabar às pressas. As reflexões vivenciadas quase se anularam, pois o nosso planeta torna-se turvo a cada instante que efetua a sua rotação em volta do astro rei. A modernidade excessiva, ganância e ambição pelo poder, invadiram os cantos e recantos, onde pessoas que se diziam tementes a Deus, já prestaram a Ele e ao seu filho amado essas homenagens, num passado distante. Hoje as procissões se apresentam resumidas, como se nos acanhássemos de ser membros da Igreja, por isso e por tantos motivos similares, o mundo encontra-se enlameado, feio, e, tentando sustentar-se nos mínimos cristãos que insistem ardentemente pelo retorno do passado!

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