Opinião
A base de tudo

A educação brasileira apresenta vários gargalos. No 3º ano do ensino fundamental, por exemplo, quando as crianças completam o ciclo de alfabetização, o índice de reprovação é de 12%. Os problemas se acumulam a partir daí, fazendo com que os estudantes cheguem ao 5º ano com uma idade superior à desejada. Metade dos alunos do 3º ano está com níveis de leitura considerados insuficientes. A questão foi debatida ontem em audiência pública realizada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Para alguns especialistas, um dos caminhos para mudar essa realidade é aumentar os recursos para o ensino básico, e a maior fatia deve ir para os municípios. Na prática, o governo federal faz toda a informação dos programas, mas quem banca a maior parte dos investimentos do setor público, saúde e educação, é o município. Não é só da educação, da saúde também. É o município que fica com a menor parte do bolo e a maior parte da responsabilidade. Atualmente, o atendimento à população nas séries iniciais é quase universal, ou seja, a maior parte das crianças está na escola, porém a qualidade da educação que recebem está muito aquém do ideal. No ensino médio, o problema é a evasão escolar. A taxa de insucesso, que seria a soma do abandono da escola com a reprovação, vai subindo ao longo dos anos e se concentra nesse ciclo. Em boa parte dos casos, os jovens acabam sendo impelidos a deixar a escola, seja por problemas sociais, seja por problemas econômicos. Além disso, um currículo inadequado e enciclopédico funciona como um desestímulo. Neste momento, o governo tenta emplacar uma nova base curricular, mas há dúvidas se a mudança provocará os efeitos desejados. Se os recursos para a educação ainda não são suficientes, não se pode afirmar, contudo, que o Brasil gasta pouco com educação, mas nem sempre as verbas chegam aonde deveriam chegar. Há problemas de gestão, desperdício e corrupção, que precisam ser combatidos. De qualquer forma, é preciso investir na melhoria do ensino básico para não comprometer as séries seguintes. A educação é um dos fatores de desenvolvimento de uma nação. Se o Brasil já superou a questão da universalidade, o momento é de focar na qualidade.