Opinião
Expectativa x realidade

A economia brasileira vem emitindo sinais oscilantes nos últimos meses. De um lado, há números bem positivos: a baixa inflação, a queda da taxa de juros ao menor patamar histórico e crescimento da arrecadação do governo. Entretanto, esses números ainda não se refletiram plenamente no dia a dia da população. A taxa de desemprego, por exemplo, registrou alta em março e chegou a 13,1%. A atividade econômica ainda patina, pois a demanda está fraca. O contingente elevado de trabalhadores desocupados limita o consumo das famílias. Consequência disso, o desempenho nos serviços, indústria e comércio ficou abaixo do que o mercado esperava. Com isso a previsão de crescimento de 3% para 2018 fica comprometida. Em vigor desde novembro, a reforma trabalhista que prometia aumentar o número de empregos ainda não fez jus ao que propagam seus defensores. Grande parte das vagas que chegaram a ser criadas é de postos por conta própria ou sem carteira assinada. Essa precarização do trabalho também se verificou em outros países que flexibilizaram as regras trabalhistas. Ressalte-se que a geração de empregos depende não apenas da regulação trabalhista, mas também de fatores como dinâmica da economia, crescimento dos setores produtivos, renda, demanda, investimentos dos empresários e do governo. Para alguns especialistas, a conjuntura econômica atual tem a ver também pelos problemas estruturais que não estão sendo enfrentados: como o ambiente de negócios, qualidade de ensino, a eficiência do setor público, infraestrutura. Outro fator que contribui para esse cenário é a incerteza quanto ao quadro eleitoral deste ano. A falta de uma definição clara sobre a disputa de outubro deixa investidores com o pé no freio, aguardando uma tendência mais efetiva do eleitorado. Essa preocupação se reflete no Índice de Confiança do Empresário Industrial, que caiu 2,3 pontos em abril em comparação a março. Trata-se de um sinal claro de revisão de expectativas dos empresários em relação à recuperação da economia em curto prazo. O fato é que as expectativas se voltam para o próximo governo. O próximo ocupante do Palácio do Planalto terá de apresentar um programa consistente e reunir as condições para que o País possa superar esse momento de grande incerteza e desconfiança, coisa que o atual governo tem sido incapaz de realizar.