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Antes de 1958, Ari Barroso, então locutor em folclóricas transmissões, implicava muito com o futebol de Garrincha. Conta Paulo Mendes Campos em sua obra O gol é necessário um episódio característico: Ari transmitia um jogo do Botafogo e dizia pausado: ?Garrincha com a bola. Vai driblar. É claro. Vai driblar de novo. Vai perder a bola. Olha ali, um saçarico pra cá, outro pra lá. Garrincha passa pelo adversário. Assim também não é possível. Vocês estão vendo? Garrincha vai driblar de novo. Vai perder. Por que ele não centrou logo? Claro que vai perder. Gol de Garrincha.? A última frase veio seca e mal-humorada: também Ari fora driblado lá na cabine. Na Copa de 1958, na Suécia, era muito pixote e não me lembro de quase nada, mas um pouco mais crescido no bicampeonato do Chile em 1962, recordo quando, com a ausência de Pelé, ficou eternamente marcado o talento do ?Garoto diabólico das pernas tortas?, como o chamava o Waldir Amaral, aquele locutor que certa feita veio transmitir um jogo do CSA no Mutange, irradiando-o da beirada do gramado, protegido da entusiasmada torcida pelo alambrado. Favorecido por uns trocados de meu pai, fui promovido da minha condição de torcedor habitual do senegalês barranco da Verde para ver de perto o ídolo que nos encantava nas empolgadas transmissões futebolísticas da rádio Globo. Então se chamava o jogo de match, peleja e desfile de emoções, e a bola de balão ou pelota, nunca de bola, e quando ela ficava quicando, ficava pererecando. O juiz era Sua Senhoria e o bandeirinha era o adjuvante de Sua Senhoria. O placar era o escore. Tomar a bola perto da área era conjurar o perigo. O goleiro com uma defesa muito forte era um assistente privilegiado do prélio, e um goleiro como o Gilmar era uma tranquilidade para a retaguarda. Pelé: sabe tudo sobre futebol, esse menino! Nilton Santos dominava por completo o costado esquerdo da cancha. O ângulo superior da trave era a última gaveta e o Maracanã era o colosso da seleção canarinho. O lado direito da tribuna de honra do Maracanã era o lado do gol do Gighia, episódio fatídico que nos atormentou até a conquista de 1958. Aquele time que encantou o mundo com Pelé, um menino de 18 anos, foi chamado de ?Os rapazes que deslumbraram o mundo desportivo na inesquecível jornada de Solna!?. Com evitar ser nostálgico de uma época na qual o chefe da delegação era Paulo Machado de Carvalho, o Brasil fazia bonito em campo e cumpria seus compromissos burocráticos. Tinha muitos craques virtuosos, mas o time jogava coletivamente, somando-os ao suor dos menos providos . Sem avaliar adequadamente o gol da Suíça, quando o Alisson ficou estático em um cruzamento na pequena área, e o individualismo excessivo de Neymar, a crítica esportiva pouco contribui para a evolução da seleção canarinho na direção do título, sonho de todo torcedor. Mas, infelizmente, isso é apenas um retrato em branco e preto do Brasil atual, passional e pouquíssimo reflexivo.

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