loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
quinta-feira, 28/08/2025 | Ano | Nº 6042
Maceió, AL
25° Tempo
Home > Opinião

Opinião

Uma campanha limpa

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

Pedro Américo, autor do histórico quadro O Grito do Ipiranga, completado em Florença em 1888, ao descrever como elaborou a mais célebre pintura sobre a independência brasileira, tornada ícone nacional, relata que leu, pesquisou, entrevistou testemunhas oculares e visitou o local. Registra também que, por razões estéticas, se disse obrigado a fazer mudanças nas personagens e no cenário a fim de produzir os esplendores da imortalidade. Com certo constrangimento, revelou que, na pintura encomendada pela Comissão de Construção do Monumento do Ipiranga, precisou ?adequar? à realidade daquele evento a grandiosidade pleiteada. Assim, inicialmente, transmutou a besta gateada cavalgada por D. Pedro pela nobreza de um cavalo. Com maior razão, prossegue o pintor, o augusto moço não poderia ser representado com os traços fisionômicos de quem sofria as incômodas cólicas de uma diarreia, motivo principal da parada da comitiva à margem do Ipiranga. Relata que o uniforme da Guarda de Honra também foi alterado. A ocasião merecia traje de gala, em vez do uniforme ?pequeno? utilizado. Finalmente, o carreiro com seu carro de bois, segundo o pintor, entrou na cena para dar cor local, retratar a placidez usual daquelas paragens, perturbada pelo acontecimento. Rejeitou indignadamente a sugestão de que obteria o mesmo efeito trocando os cavalos da pintura pela tropa de asnos, animal verdadeiro utilizado naquele momento. Ressalte-se que nenhuma forma de arte tem como obrigação reproduzir com exatidão os fatos; o artista sempre pode dar asas à imaginação e à criatividade. Muitos deles se consagraram justamente por esse talento especial, como Salvador Dalí e os surrealistas. Todavia, no plano político-eleitoral, a diferença entre a realidade dos fatos e as grosseiras mentiras apresentadas ao eleitor têm resultado em hecatombes com gigantescas repercussões coletivas, como ocorreu nas eleições de 2014, quando se escamoteou a realidade e isso resultou em 66 milhões de brasileiros sem trabalho, fechamento de milhares de empresas, agravamento do caos na saúde e na segurança públicas e a pior recessão da história nacional. Nesta campanha eleitoral, cuja maioria do eleitorado apresenta-se desmotivada para votar, indispensável é que os principais problemas nacionais sejam tratados com enfoque na realidade, sem esconder a extensão e a profundidade dos problemas e sem apresentar propostas ou soluções mirabolantes ou populistas, que enganam o eleitor mais desesperado ou mais ingênuo. A seriedade com a qual o candidato abordar ou não esses problemas pode ser um bom indicativo de voto.

Relacionadas