Opinião
Pedofilia e Igreja

Os últimos acontecimentos na Pensilvânia causaram profunda tristeza e indignação pela gravidade dos abusos sexuais cometidos por clérigos. A Igreja Católica tem procurado encontrar as vias para acabar com este mal em seu seio e, infelizmente, o mesmo ainda não foi erradicado. Diante do ocorrido nos Estados Unidos e em outros países, o papa escreveu uma carta endereçada ao povo de Deus e falando sobre o acontecido. Acredito que um dos passos para a resolução da questão é o reconhecimento dos erros cometidos e, na carta, o pontífice foi claro em avaliar o posicionamento aquém da Igreja em muitas destas situações. Ao ler a missiva, dois pontos em minha visão se sobressaíram. O primeiro é referente ao ?colocar-se? no lugar das vítimas, dirigindo palavras não somente de conforto e compaixão, mas promessas de proteção e mudança de atitudes. A expressão utilizada (?as feridas nunca prescrevem?) é uma demonstração clara que o passado não deve ser ignorado na tentativa de construção do futuro. O segundo, e para mim o mais interessante ponto, é o pedido de ajuda a todos os membros da Igreja nessa luta pela ?tolerância zero? em relação à pedofilia. Um compromisso que não somente envolve padres e bispos, mas faz referência aos leigos, àqueles que participam da comunidade eclesial e que podem dar uma contribuição clara para a resolução dessa grande problemática sofrida nos últimos tempos. O papa fez como que um clamor solicitando essa ajuda de todos, chegando inclusive a tocar no tema do clericalismo, condenando a autoridade eclesial abusiva que só piorou a gravidade dos acontecimentos. Tocar nessa temática, não é fácil, pois eu também sou sacerdote da Igreja Católica e faço parte da sua hierarquia. Atualmente, estou realizando um curso nos Estados Unidos e o padre responsável pela paróquia onde estou leu a carta do seu bispo sobre esses fatos e explorou o assunto durante a sua prédica. Sofro, pois, se um membro sofre, todos sofrem com ele. Imerso nessa realidade americana, estou vivenciando em um modo muito próximo o ambiente de discussões gerado por esse escândalo. Acredito que o tempo agora é de reconhecimento dos erros, pedidos de perdão e principalmente de ajuda, pois, como o papa disse, essa ?cultura? deve simplesmente ser extirpada e não há meias-palavras para isso. Deus nos conceda essa graça como resposta para esse tempo difícil.