Opinião
Crise de representação

O percentual de eleitores que têm votado branco ou nulo para deputado federal tem aumentado nos últimos anos. Segundo levantamento da Câmara, nas eleições de 2002, esse percentual chegou a 8%; já em 2014, foram 15%, quase o dobro. Quando se considera a abstenção geral, a soma indica que, em 2002, praticamente um em cada quatro eleitores deixou de escolher seu representante no legislativo federal. Doze anos depois, um em cada três eleitores adotou essa posição. Para analistas, o alto índice de eleitores que deixam de escolher algum candidato é reflexo da crise de representação no País. É uma consequência de um conjunto de crises no Brasil que se tornou mais evidente a partir de 2013. Esse cenário alimenta uma desconfiança em diversas instituições. A crise política, segundo Paulino, atinge todos os políticos. Hoje, a taxa de eleitores que não têm um partido de preferência supera os 60%. Além de sucessivos casos de corrupção, o Brasil passou por um processo de impeachment em 2014 e enfrentou efeitos da recessão na economia. A combinação desses fatores resultou no alto número de votos inválidos, pois nem os políticos nem os partidos conseguiram dar respostas convincentes aos cidadãos, que consideram que os políticos são corruptos e também não conseguem promover os benefícios e os direitos de que a população necessita. Além disso, a população costuma associar os políticos à pouca disposição para o trabalho, falta de compromisso com os eleitores, atuação parlamentar direcionada apenas à satisfação de objetivos particulares, entre outras reclamações. O fato é que há uma dificuldade do sistema político em oferecer alternativas, por isso é necessária uma reforma política para acabar com a descrença do eleitorado nas instituições. Essas mudanças devem valorizar o eleitor, garantir transparência e promover alternância de poder, com equidade entre os candidatos. É preciso que a população compreenda a importância do Legislativo, ao qual cabe elaborar as leis e proceder à fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União, dos estados e dos municípios, ou seja, lugar onde passam grandes decisões que causam impacto direto na vida do cidadão. Se houvesse essa consciência, com certeza haveria maior cuidado na escolha dos candidatos a vereador, a deputado e a senador.