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Dilemas

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EDUARDO BOMFIM * Não é possível ignorar que o país vive momentos de certas contradições. Os fatos políticos, administrativos e policiais assumem dimensões de conflitos, repercutindo nas manchetes da imprensa diária. O governo Lula navega em um oceano de continuidade e mudanças, assim como ondas que se chocam, umas contra as outras. A verdade é que a “herança maldita” possui dimensões bem mais substanciais que supunha a nossa vã filosofia. O nó do capital financeiro internacional, bem como das políticas neoliberais, implantadas no País durante os dois trágicos mandatos de FHC, encontra-se bem mais enfeixado que se supunha. A expectativa de mudanças, construída durante este período e mais precisamente na campanha eleitoral passada, criou a ilusão de uma passagem rápida na travessia do Rubicão. É verdade que o País não pode permanecer durante largo tempo neste impasse. O custo será alto e poderá comprometer a busca de outros rumos, ou talvez até da própria governabilidade. Alguns setores consideram, com excessiva prudência, impossível alterar no momento a orientação econômica anterior, nociva à nação e ao povo brasileiro, sem provocar forte desestabilização na macroeconomia, conduzindo o País à ruína generalizada. Daí que o caminho passa a se manter o rumo da nau e adotar medidas sociais, orientadas para as grandes massas de 50 milhões de vítimas das duas gestões passadas, do senhor Fernando Henrique Cardoso. Porém, outros contingentes também foram atingidos pelas duas nefastas gestões, os assalariados dos setores da classe média, representados por organizações sindicais e associativas, com forte influência política, social e de mídia, que buscam fazer valer os seus direitos usurpados, salariais ou constitucionais. Há ainda outros segmentos com postura doutrinária que não buscam solução alguma para o impasse criado. Talvez, nunca tenham acreditado nesta possibilidade. Dissociados deste complexo teorema político pretendem capitalizar a insatisfação gerada pela ausência, até o momento, do atendimento dessas reivindicações, imaginando dividendos eleitorais ou outros, formulando um suposto processo de radicalização, de ruptura do sistema, ou algo bastante assemelhado. No linguajar destas esquerdas, significa postar-se de forma mais conseqüente que todos os demais, o que não é em absoluto verdade. Podem no entanto, atrair, provisoriamente, simpatias ou mesmo adesões para os seus partidos ou tendências. Sendo verdade o conceito marxista de que a política é a análise concreta da realidade concreta, os caminhos a serem perseguidos são outros bem mais complexos. É fundamental considerar que em outubro do ano passado as forças conservadoras, os EUA e o capital financeiro internacional sofreram contundente derrota no Brasil. Este é o grande trunfo que possuímos, ponto de partida, capital valioso a ser multiplicado em favor da maioria e do Brasil. De outro lado, os vinte e um anos de regime militar produziram efeitos bem mais nefastos do que se possa supor. Um deles, refere-se à ausência, por parte da esquerda, de uma visão mais elaborada, aproximada, da realidade brasileira em todos os seus níveis. Abriu-se igualmente um fosso, dissociando-se desta, uma experimentada geração de acadêmicos, planejadores e suas produções teóricas sobre o país, oriundos do período anterior ao arbítrio. Uma reaproximação que só vem acontecendo de uns tempos para cá. Fruto de tudo isto, constituiu-se, nas esquerdas, uma visão quase messiânica, acerca da solução dos graves problemas estruturais brasileiros. Ou quando muito, equações de laboratório. Ao ver-se no poder institucional, deparou-se com problemas intricados que não cabem em suas fórmulas anteriores para as soluções que almejava. Vários começam a perceber que urge construir um difícil processo que arquitete um projeto de transição do neoliberalismo predominante em todo o mundo, salvo as exceções conhecidas, China, Cuba, Vietnã, Índia, etc. Que neste percurso terá que conviver com claudicantes, cooptados, ingênuos, trânsfugas, separando o joio do trigo. Além disso, o óbvio. As forças derrotadas, reacionárias e poderosas continuam vivas e atuantes. Que não podendo agradar a todos ao mesmo tempo, sofrerão críticas e manifestações de vários tipos. Isto é governar, inclusive em situações de rupturas avançadas. O que, aliás, não é o caso. Que o exclusivismo de partido, em política, não funciona como quem veste, apaixonado, a camisa do seu time de futebol - com lógica ou sem ela é o melhor time do mundo e o resto é conversa fiada. Retomar o desenvolvimento, desconcentrar a renda e afirmar a soberania não são coisas fáceis. Mas é a nossa tarefa, na unidade e na luta desta heterogeneidade fatual. (q) É ADVOGADO

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