Opinião
Eucaristia

DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * Nada mais propício, no tempo pascal, em que celebramos a ressurreição de Cristo, do que uma palavra sobre a Eucaristia, sacramento da Igreja entendido como memorial da Páscoa de Cristo. Na verdade, a obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição, torna-se presente e atualiza-se entre nós na ação litúrgica com toda sua força e expressão. A ação sacramental é manifestação do amor de Deus por nós. Santo Agostinho é quem melhor define Eucaristia: ?Sinal de unidade, vínculo de caridade, perfeição de amor?. É justamente o amor total que nos é dado por Deus sem exigência alguma. Sob as espécies consagradas do pão e do vinho, Cristo mesmo, vivo e glorioso, está presente de maneira verdadeira, real e substancial, em seu corpo e seu sangue, com sua alma e sua divindade. Em sua missão, é tarefa do bispo apresentar e explicar aos seus diocesanos os documentos do magistério da Igreja. Por ocasião da Quinta-Feira Santa, anualmente João Paulo II envia a todos os sacerdotes uma carta com uma reflexão sobre um tema especial. Neste ano de 2003, ele preferiu escrever uma encíclica com o título ?A Igreja vive da Eucaristia?. Explica o papa: ?Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja?. E ele recorda-nos o Concílio Vaticano II, afirmando que o sacrifício Eucarístico é ?fonte e centro de toda vida cristã?, com efeito, ?na Santíssima Eucaristia, está contido todo tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo?. O documento pontifício compreende seis capítulos: Mistério da Fé; A Eucaristia edifica a Igreja; A Apostolicidade da Eucaristia e da Igreja; A Eucaristia e a comunhão eclesial; O Decoro da celebração eucarística; Na escola de Maria, mulher ?Eucarística?. O concílio Vaticano II veio recordar que a celebração eucarística está no centro do processo de crescimento da Igreja. De fato, depois de afirmar que ?a Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus?, querendo de algum modo responder à questão sobre o modo como cresce e acrescenta: ?Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual Cristo, nossa Páscoa, foi imolado? (1Cor 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo. Na realização do sacramento do Batismo, nós somos incorporados em Cristo, porque ele se renova e se consolida continuamente através da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada um de nós recebe de Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade conosco: ?Chamei-vos amigos? (Jo 15,14). Finalmente, o papa nos lembra que na Eucaristia a Igreja une-se plenamente a Cristo e ao seu sacrifício, com o mesmo espírito de Maria. Tal verdade pode-se aprofundar relendo o Magníficat em perspectiva eucarística. De fato, com o cântico de Maria, também a Eucaristia é primariamente louvor e ação de graças. Quando exclama: ?a minha alma glorifica ao Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador?, Maria traz no seu ventre Jesus. Que este documento nos ajude a crescer no amor à Eucaristia. (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ