Opinião
Ética e educação

Recentemente, durante o desjejum em um hotel, atentei para a longa fila da tapioca. Na mesa ao lado, os ocupantes comentavam o desejo de apreciar tal alimentos, constatando porém que o tempo de espera seria muito longo. Uma das pessoas do grupo, então, falou: ?já sei o que vou fazer?. Imediatamente após ausentar-se do salão, retornou com duas crianças e dirigindo-se à bancada do restaurante, lá se apresentou como prioridade, sendo atendida à frente de todos pela tapioqueira que preparava as iguarias sob pedido, sendo servida não somente para si própria, mas trazendo os quitutes desejados, para todos os companheiros que com ela se encontravam. Dias depois tive oportunidade de assistir à solenidades de posse de governadores eleitos e também do Presidente da República do Brasil. Todos proferindo discursos otimistas, alguns dos quais em determinados momentos emocionando o espectador que, como eu, sonha com tempos melhores para todos os filhos da pátria. Justo neste momento, recordei-me da atravessadora da fila da tapioca. A atitude daquela madame nem de longe pode ser considerada um ponto fora da curva, mas, sim, a grande realidade vigente em nosso país, onde tirar proveito é prática secular, na maioria das vezes maltratando e prejudicando semelhantes. Assim, ao assumir qualquer posto, o executivo passa a ter, flutuando em seu entorno, uma gama de pessoas nem sempre possuidoras de dotes morais como prioridade de vida. O mais impressionante e preocupante contudo é hoje escutarmos, muitos citarem a palavra ética, embora, se perguntados, não consigam explicá-la ou defini-la. Há os que consideram ser ético, estar teoricamente correto, embora não hesitando em estacionar nos locais proibidos (desde que não sejam multados), ou se atrasando para seus compromissos (mesmo sabendo estarem sendo esperados por alguém). Justamente estes é que funcionam como verdadeiros pesos em excesso, arrastando para as profundezas, sonhos e expectativas dos muitos bem intencionados. Entendo, porém, ninguém nascer com preceitos morais internalizados, devendo admitirmos ser através da educação que o indivíduo tem a chance de construir sua personalidade moral, para, em uma sociedade competitiva e individualista como a nossa, podermos parecer utópicos aspirando por princípios como a justiça, baseados na reciprocidade e no compromisso pessoal. Séculos atrás, o filosofo grego Aristóteles deixou claro estar na ética uma das ferramentas aptas a desnudar o comportamento humano, com ênfase para os valores do indivíduo perante a comunidade à qual pertence. Ao escutar os discursos dos futuros dirigentes brasileiros, em sua maioria os conhecia pelos nomes a ponto de aplaudi-los ou deles duvidar, talvez, por esta razão, mostrei-me reticente ante a euforia de alguns. Durante aquele café da manhã, sentia-me como um simples incógnito, como quase todos os ocupantes da mesa beneficiada pela mulher da tapioca, porém eles riam, felizes com a iniciativa da oportunista, até por estarem tirando vantagem da situação. Em termos de moral, contudo, o grupo, sem ao menos perceber, deixava a desejar, apesar de aparentemente possuir boa educação.