Opinião
Os bonecos do Pinto

Saia eu abatido de uma cirurgia digestiva para uma doença diverticular, na qual retirara uma porção do intestino grosso, e com a perda de peso inevitável do pós-operatório, as roupas folgadas dançavam um frevo no corpo descarnado. Marcial de Lima, já então afetado pela Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), impiedosa enfermidade que o levaria, espreitou-me sorrateiramente, e em seguida telefonou para o Eduardo e o Braga Lyra:??Companheiros, o Davi quer tomar o meu lugar como primeiro boneco , e isso eu não admito! O primeiro boneco da diretoria do Pinto da Madrugada sou eu!?. Marcial de Lima , embora de compleição física frágil, era forte em sua pujante personalidade :lutou bravamente pela vida, com o auxílio da Maria e dos filhos, mas embora consciente da sentença inapelável de sua doença, manteve o equilíbrio e o bom humor até os últimos momentos . O seu boneco, moldado por Botelho, o mago de Olinda, é tão bonito quanto era o Marcial em sua intimidade, em sua consistência de homem de cultura e cidadania dotada de altíssima sensibilidade social. Aos 20 anos o bloco Pinto da Madrugada ? agora com a Nova Geração ? estará hoje na avenida, Marcial de Lima, junto com o Edécio Lopes, um ícone imortal do nosso Carnaval,do qual era incentivador inigualável e compositor de extraordinárias canções,cantadas com enternecedora emoção pela multidão,e igualmente bafejado por aguçada sensibilidade social. Estarão ali outros bonecos:Maestro Manezinho e Zé Alfredo, entre outros. Naquele já distante primeiro desfile, em 2000,uma banda carregou heroicamente a multidão de 5 mil foliões, a gloriosa Banda Vulcão, da Polícia Militar do Estado,naquela ocasião comandada pelo coronel Ronaldo Santos,o qual, junto com o então tenente, hoje coronel José Maxwell, exemplares cidadãos , foram a sustentação fundamental no início do Pinto da Madrugada, que hoje, taludo, traz 15 orquestras. O maravilhoso Coral, composto pela maestrina Fátima Menezes,Mari Jatobá, Leda Queiroga,Lais Araújo, Lima Neto e o Élcio Silva, já encantava os foliões, tais quais as sereias de Ulisses. A Banda Vulcão completa 80 anos de frutífera vida:um celeiro inesgotável de talentos ,que além de nos brindar os domingos com concertos dignos de Von Karajan, exporta solistas para bandas como a dos Dragões da Independência, do Palácio do Planalto. Estarão também na avenida, os blocos Pecinhas, Rolinhas e Confraria do Rei, sem esquecermos o tradicionalíssimo Filhinhos da Mamãe, que sai em Jaraguá.Salve Dinho Lopes, digno herdeiro do inesquecível Edécio Lopes e o retorno anunciado à Avenida do Pecinhas, tradicional e desinibido bloco de carnaval de Maceió. Hoje na avenida, sob o sol escaldante e no cenário maravilhoso da Pajuçara/Ponta Verde, vamos cantar as belas canções que nos emocionam tanto. Abraçar amigos e desconhecidos , porque assim é o Carnaval, essa imensa confraternização.Salve Marcial, Edécio, Zé Alfredo, maestro Manezinho, bonecos que trazem ao asfalto da Avenida esses que estão e estarão permanentemente em nossos corações.