Ambição

Não é um tema novo na minha coletânea de crônicas escritas nesta coluna e replicadas por outros meios se aproximando dos quinhentos textos, os quais pretendo, em breve, selecionar e editar em forma de livro, com lançamento este ano. Com a evolução da vida, as pessoas passam por grandes transformações e quase não se dão conta de que ficam mais amantes de si mesmas, egoístas, ambiciosas, gananciosas. Ah, o poder! Seria ele o instrumento revelador do verdadeiro caráter do ser humano quando pisca a luz do bem e do mal? Percebemos que sentimentos essenciais vão ficando fora de moda, distanciando amigos, colegas de trabalho, justo nestes tempos de tamanha evolução da tecnologia, atingindo níveis extraordinariamente impensáveis na comunicação de décadas passadas. Por onde anda a beleza do amor, amor sincero, olhos nos olhos, coração solidário? Lealdade bem ao estilo antigo quando existia verdadeiramente fidelidade, respeito mútuo; amizade, aquela amizade compartilhada e sincera onde um se interessa pelo bem-estar do outro? Diante dos novos conceitos, a família, talvez, venha a ser quem mais sofre nesta competição tecnológica exposta às inúmeras agressões que, contraditoriamente, a modernidade nos impõe. Será que as pessoas estariam menos felizes, ansiosas demais, capazes de qualquer coisa para conquistarem os seus objetivos ou a ambição é simplesmente uma virtude própria de quem sonha com o sucesso a qualquer preço? Pesquisa de docentes em filosofia na Universidade de Santa Catariana obteve conclusões bem esclarecedoras sobre o assunto. Uma delas foi que sem ambição o ser humano ainda estaria morando no mundo das cavernas. Criatividade e trabalho são instrumentos a serviço da ambição humana e, como tal, podem ser usados para o bem ou para o mal. Não é demais lembrar que o governo Bolsonaro pretende extinguir os cursos de ciências humanas nas universidades brasileiras. É muito comum atribuir ao ambicioso o forte desejo de ganhar dinheiro, embora não exista nada de errado nisso, mas foi partindo dessa visão limitada que surgiu a dúvida se a ambição é ou não uma qualidade humana. Ambição expressa a vontade de crescer, evoluir na vida. É isso que nos motiva a enxergar o futuro como faixa de chegada para o que projetamos conquistar ao longo da corrida. O perigo mora no lado psicótico do indivíduo, daquele que usa as oportunidades para transformar seus desejos numa obsessiva ganância que atropela inescrupulosamente a tudo e a todos. Estamos assistindo a esse filme todos os dias nas TVs e nos noticiários do país e do mundo. É pecado capital, como diria Paulinho da Viola em sua canção: ?... cada um cuida de si, irmão desconhece irmão...? A luta para conquistar o topo e o poder está na política, nos negócios, no esporte, em todas as atividades exercidas pela complexidade do comportamento humano. Tem uma frase budista que diz: ?Devido à sua ambição e egoísmo, o homem faz da sua vida um verdadeiro naufrágio?. É aí que mora o perigo!