Henry Ford e a Amazônia

A Fordlândia foi a maior ocupação já registrada na Amazônia por uma corporação estrangeira e, estranhamente, até agora, ficou fora da intensa polêmica gerada pelas queimadas na região. Em 1927, instalou-se no município de Aveiro, as margens do rio Tapajós no Pará, em vastíssima área adquirida pelo empresário norte-americano Henry Ford uma Company Town , projeto agroindustrial que visava através do cultivo das seringueiras e colheita do látex, abastecer os seus automóveis fabricados nos EUA, então dependentes da borracha produzida na Malásia, na época, colônia britânica. Os termos da concessão isentavam a Companhia Ford do pagamento de qualquer taxa de exportação de borracha, látex, pele, couro, petróleo, sementes, madeira e outros bens produzidos na gleba. A região, belíssima pelas nuances esverdeadas do Tapajós em contraste com o verde profundo da floresta, onde na cidade de Urucará, médio Amazonas, fiz Projeto Rondon em 1973,caracterizou-se por tornar-se pedregosa e infértil depois de desmatada. Além disso, nenhum dos gerentes de Ford tinha experiência com a agricultura equatorial, e o plantio incorreto das seringueiras foram presas fáceis das pragas agrícolas que devastaram as plantações. Ford instalou ali uma respeitável infra-estrutura, que incluía escolas, galpões para refeições dos trabalhadores e até dois hospitais. Os trabalhadores locais das plantações recebiam uma alimentação típica norte-americana, como hambúrgueres, eram instalados em habitações também ao estilo norte-americano, obrigados a usar crachás e comandados num modelo que não estavam habituados, o que causava conflitos e baixa produtividade .Em 1930 houve uma revolta dos trabalhadores o que obrigou o Exército brasileiro à intervir. Com o falecimento de Henry Ford em 1945 , seu neto, Henry Ford II, assumiu o comando da empresa nos EUA e encerrou o projeto, que com as novas tecnologias de exploração do petróleo e seus derivados, se tornara inviável. O governo brasileiro assumiu os custos trabalhistas com os trabalhadores remanescentes. A Ciência e a Filosofia caminham juntas em inúmeros momentos. O filósofo Karl Popper introduziu em 1934 a noção de que o método científico se baseia na noção de FALSEABILIDADE, que começa pelo levantamento de uma hipótese até que possa ser ou não contestada com fatos. Albert Camus cunhou a célebre frase:? A PRIMEIRA COISA QUE UM BOM CIENTISTA FAZ DIANTE DE UMA DESCOBERTA IMPORTANTE É TENTAR PROVAR QUE ELA PODE ESTAR ERRADA ?. A ciência é uma forma de conhecimento de natureza crítica, que busca verdades necessárias e universais , e que possui caráter empírico e sistemático, que baseia-se numa metodologia que pode ser descrita simplificadamente como um processo que engloba observação, hipótese , experimentação e conclusão. A questão das queimadas da Amazônia foi inicialmente tratada pelo governo com acusações ao INPE de estar manipulando dados com interesses escusos, igualmente, foram acusados governadores da região de terem interesse de derrubar o governo e o Fundo Amazônia, fonte relevante de recursos . Os dados do INPE, ,respeitado órgão científico nacional ,foram respaldados pela NASA, pelas universidade de Maryland e de Berkeley na Califórnia. As acusações aos governadores , desprovidas de provas e de qualquer bom senso, devem ser sublimadas como outras insanidades vivenciadas pelo País recentemente. Como outrora na Fordlândia, os dados científicos coletados no campo amazônico atual, onde ocorreu devastação pelo desmatamento e pelas queimadas, mostram que só 10% dessa terra consegue ser aproveitada de forma útil pelo agronegócio. O Brasil precisa desesperadamente de recursos para o seu desenvolvimento e nada real impede que venham de fora. Desprezar a ciência como um parceiro indispensável nessa busca pelo desenvolvimento nacional é tão insensato quanto achar que a terra é plana e que não existe o aquecimento global, preconizado por 97% dos maiores cientistas mundiais.