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PAPA PAULO VI

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DOM EDVALDO G. AMARAL * A Pontifícia Comissão para a América Latina dirigiu circular aos 291 bispos, ainda vivos em nosso continente, eleitos para o episcopado pelo Papa Paulo VI, solicitando-lhes um Testemunho, algo como uma lembrança pessoal do papa Montini, evocando algum encontro, alguma celebração de que participou, com o papa morto em 6 de agosto de 1978, de que se celebra, neste ano, o 25º aniversário de falecimento. Minha lembrança pessoal de Paulo VI é a audiência, que ele concedeu, no dia 20 de dezembro de 1971, aos membros do Capítulo Geral Especial dos Salesianos, de que participei como delegado representante do Nordeste e que foi a primeira vez na minha vida que vi um papa de perto. Mais de 50% do discurso foi proferido com palavras espontâneas, fora do texto escrito. Paulo VI recordou inúmeras reminiscências pessoais suas, de dom Bosco e dos salesianos. Um quadro de dom Bosco no escritório de seu pai, com o autógrafo do santo: No fim da vida recolhe-se o fruto das boas obras, que ele, pequenino, subia numa cadeira para poder ver de perto... Um tio seu que estudou Medicina em Turim e ouviu de dom Bosco a profecia: Tu serás médico do meu corpo e eu serei médico de tua alma... Um sobrinho seu, discípulo do famoso salesiano, dom Cojazzi, que foi missionário, em Macau, por 17 anos, e outro sobrinho, padre Montini, que faleceu bem moço como missionário no Amazonas. Referências jocosas ao tempo em que ele, jovem sacerdote em Roma, era o assistente dos universitários e fazia as reuniões numa casa salesiana e os jovens o enganaram, conservando um bilhete seu, pedindo vinho ao sacristão que, dado para uma única noite, foi usado, sem data, inúmeras vezes... E tantas outras coisas alegres e divertidas que fizeram rir, em plena audiência papal, os duzentos capitulares, representantes do mundo salesiano. Nessa audiência, o bondoso pontífice afirmou ? também fora do texto escrito: ?Sufocado por tantas dificuldades, tantos desprazeres, tantas infidelidades, tantas gratuitas contestações, único conforto do papa é abrir uma janela metafórica e olhar o panorama e ver os campos cultivados, como o vosso. Há os salesianos na Igreja! - afirmou com ênfase. E continuou: ?Ah! Na verdade se volta a respirar e se tem uma prova sensível de que o Senhor está conosco, que Ele trabalha, na verdade, com as mãos de sua Igreja, com esta obra de evangelização que não terá fim a não ser no fim do mundo.? Palavras espontâneas brotadas do coração do grande papa do pós-concílio. Eu definiria Paulo VI, como minha impressão pessoal, como o papa sofrido ? via-se o sofrimento em seus olhos claros, quase apagados ? o papa incompreendido ? também dentro da Igreja, porque ?os seus não o conheceram? - mas o papa corajoso, que confiando só em Deus e pouco nos homens, realizou para a Igreja a ciclópica obra de aplicação da grande reforma do Concílio Vaticano II. O caso Lefebvre, o último cisma da História da Igreja, e a clamorosa rejeição por parte de alguns teólogos, sobretudo europeus, de sua Encíclica Humanae Vitae, sobre o espinhoso tema da reprodução humana em seus aspectos morais, à luz da doutrina cristã, foram os dois mais dolorosos espinhos de seu atormentado pontificado. O seu lado humano sofreu com a deserção de tantos sacerdotes no mundo inteiro, na fase imediatamente pós-conciliar. Narra-se que passando na sala, onde estavam sobre a mesa os pedidos de dispensa do exercício do ministério sacerdotal, o grande e tão humano papa Montini teria escrito de próprio punho: Humaniter tractandi sint ? ?Esses casos devem ser tratados humanamente?. Paulo VI ficará para sempre na história da Igreja como o papa que, entre dores e mágoas, concretizou o Concílio Vaticano II. (* ) É ARCEBISPO EMÉRITO DE MACEIÓ

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