loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
terça-feira, 08/07/2025 | Ano | Nº 6005
Maceió, AL
26° Tempo
Home > Opinião

Opinião

(Des)caminhos do cinema no Brasil

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

| CLÁUDIO JORGE DE MORAIS * Desde o seu nascimento, o cinema vem criando fascinação. Inúmeros testemunhos permitem conferir, já no seu primeiro momento no Brasil, fortes impressões sobre o potencial modernizador das imagens. As memórias de José Lins do Rego permitem enfocar e exemplificar como o impacto do cinema fez repensar as relações do período e, principalmente, como a produção da época trazia questões relacionadas às novas maneiras de entender, de sentir e de organizar o mundo. José Lins do Rego estudou em Itabaiana, município localizado no interior da Paraíba, o qual estava atravessando um momento de significativas transformações em relação ao seu espaço urbano. A instituição escolar, na esfera dessas mudanças, participou, efetivamente, desse processo. Mas, foi o cinema que trouxe o maior impacto sobre as vidas das pessoas daquela comunidade. Os filmes conseguiam encantar toda uma juventude, naquela época, através de uma imersão em um mundo imagético e fascinante, conferindo novos significados à realidade. Segundo o escritor, invenção maravilhosa esta, que nos ajudava a levar o tempo, a furar os meses com o pensamento nas fitas. Vimos Os miseráveis do começo ao fim. (...) Levamos semanas seguidas com esse romance nos agitando, a nos arrastar para um mundo de homens grandes demais e de homens pequenos como víboras. (...) A história toda arrebatava a nossa imaginação para os perseguidos, para os que roubavam porque tinham fome, para os que protegiam os pobres ou morriam nas ruas pela liberdade. Como a leitura, o cinema faz imaginar e, com ele, as pessoas transformam questões incomuns em situações da vida cotidiana e passam a refletir sobre essas condições. Provocando deleite e desprazer, os filmes, nesse período, passaram a ser discutidos e preferidos nos momentos de recreação, estendendo-se até aos lares. Os iniciados quase sempre encontravam uma identificação com os personagens e, com isso, adquiriam comportamento e palavras. São significativos os testemunhos de José Lins do Rego em tentar demonstrar seu fascínio pelo cinema, muito embora, durante a Revolução de 1930, essa modernização seguirá o seu viés prussiano-colonial do capitalismo brasileiro, ou seja, subordinação da economia brasileira no tocante aos centros desenvolvidos do capitalismo. É verdade, as imagens nos tocam, deixando-nos impressões e conseguindo, assim, registrar os seus caminhos e descaminhos nos rastros da História. (*) É professor de História e Teoria da Comunicação no Cesmac e mestre pela UFPE.

Relacionadas