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Nº 5812
Opinião

Jogo pesado

EDUARDO BOMFIM * Dizia o velho Marx que a história só se repete como tragédia ou farsa. Através de sinuosa manobra o presidente FHC articulou a encenação de uma trama eleitoral, extremamente ardilosa. Muito embora alguns interpretem a decisão do TSE com

Por | Edição do dia 15/03/2002 - Matéria atualizada em 15/03/2002 às 00h00

EDUARDO BOMFIM * Dizia o velho Marx que a história só se repete como tragédia ou farsa. Através de sinuosa manobra o presidente FHC articulou a encenação de uma trama eleitoral, extremamente ardilosa. Muito embora alguns interpretem a decisão do TSE como um ordenamento jurídico, em função dos desencontros ideológicos dos partidos Brasil afora, através do instituto das coligações. O resultado foi outro. Andando pelas ruas ouve-se a voz do povo. Vox populi vox Dei, afirma o provérbio. E a opinião pública, com seu sorriso maroto e contido de quem é “pequeno”, precisando precaver-se dos poderosos, já pronunciou um veredicto diferente. Estão armando no Planalto. A poderosa máquina tucana busca impulsionar a campanha de Serra. Objetivaram reeditar a mesma coligação que elegeu o seu patrono duas vezes presidente da República e que afundou o País no pântano social. Como há rebeldes no PMDB e o PFL resolveu apresentar candidata própria, Roseana Sarney, tornou-se imprescindível um casuísmo. Lembraram-se do período autoritário e tiraram do bolso uma pérola de arbítrio, assemelhada ao voto vinculado. Com isso, intentam enquadrar o PMDB. Pensam em trazer de volta ao Planalto o PTB e outros. Preventivamente, iniciaram um pesado fogo de artilharia através de dossiês na grande mídia, contra a governadora do Maranhão. Roseana sofre significativo abalo de popularidade, devendo renunciar ao projeto presidencial e o escolhido do Planalto avança, segundo as pesquisas divulgadas. Já a consulta do deputado Miro Teixeira, que mofava em alguma gaveta do TSE, repentinamente tornou-se de uma utilidade transcendental. Como se diz na gíria parlamentar, de uma urgência urgentíssima. Afirmava em um artigo anterior que, para manter-se no poder, este grupo neoliberal transformaria as eleições futuras em um inferno de Dante, se assim fosse necessário. Os ex-aliados do Planalto encontram-se sob a ação de cerco e aniquilamento. Ou a opção de uma capitulação incondicional. É ainda cedo para se ter uma idéia sobre a tática a ser adotada pelos liberais de Marco Maciel e outros caciques poderosos da política nacional. Esta luta resume-se a disputa pelo poder, visto que não há diferenças fundamentais entre estas forças em relação a um novo projeto para o Brasil. Assim, imaginem como serão os ataques contra as oposições e em particular às esquerdas. O problema é que o movimento é muito escancarado, escandaloso, e a sociedade condena manobras de caráter golpista. Um caldo de cultura parecido com o atual fez com que a população, revoltada, abalasse as estruturas do regime militar mesmo com a sua truculência, leis autoritárias e tudo mais, impondo-lhe estrondosas derrotas nas ruas e nas urnas, culminando com o movimento das “Diretas Já”. Foi efetivamente um golpe de misericórdia na ditadura. Penso que o governo moveu-se em terreno pantanoso. Armou-se uma nítida e irrefutável farsa. Este jogo pesado e viciado corre o risco de tornar-se uma tragédia eleitoral para seus autores em Brasília e partidários estaduais. A dose foi cavalar e o tiro pode ter sido desfechado contra o próprio pé de quem estava com a arma. Ou a caneta. (*) É ADVOGADO

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