O mito da paz global

Desfazem-se no ar alguns dos mais caros mitos da suposta pós-modernidade. O mundo globalizado (que chegou a ser anunciado como o tempo do ?fim da história?) desmente quem lhe confiou suas esperanças e apresenta cenas repetidas de velhos filmes de terror. Antigos problemas, como o terrorismo, comprovam sua vitalidade neste século XXI e exigem respostas verdadeiramente novas. A política belicosa imposta por George W. Bush não tem demonstrado sua eficiência em termos de luta estratégica contra o terrorismo. Na verdade, se confirma a falência do método do ?grande porrete? ? definido por Theodore Rossevelt nos primeiros anos do século XX e redivivo pelo atual presidente americano nesses primeiros anos do século XXI ? para soluções duradouras. Os sangrentos atentados perpetrados contra alvos civis na cidade de Riad (Arábia Saudita) e no povoado de Ilasjan Yurt (Chechênia), comprovam o quanto está disseminado o conceito do terror como resposta política de grupos radicalizados que se consideram excluídos e oprimidos pelas potências. Sejam endereçadas aos Estados Unidos ou à Rússia, homens e mulheres-bombas escrevem suas mensagens em sangue inocente e não interrompem suas atividades explosivas nem sob a ameaça e sob a ação da mais poderosa máquina de guerra do mundo contemporâneo. São essas mensagens de um radicalismo extremo, mas o problema não pode ser resumido ao aspecto do fanatismo religioso. As questões principais, e que seguem sem soluções, estão todas na política de dominação de nações menos desenvolvidas pelas grandes potências. É a mesma tragédia que marcou a virada do século XIX para o século XX (e todo o seu transcorrer). O mundo já deveria ter aprendido a lição. Árabes, chechenos, afegãos, palestinos e outros povos que sofrem da exclusão e padecem da intervenção estrangeira devem ser tratados de forma diferente, devem ter suas reivindicações ouvidas e negociadas de verdade. A partir daí, se poderá isolar e inocular o vírus do terrorismo. Sem essas mudanças, a paz seguirá sendo um mito.