EDITORIAL
RECADO
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Nos últimos dias, o Chile tem vivido um período de grande ebulição social, com grandes protestos. Os confrontos entre os manifestantes e a polícia já deixaram 15 mortos. Depois da repressão inicial, o presidente Sebastián Piñera fez um pronunciamento em rede nacional e pediu perdão aos chilenos pela falta de visão de problemas históricos. Ele anunciou uma série de medidas para aliviar as tensões no país, como um incremento às aposentadorias, a criação de um teto para os gastos com medicamentos, a redução nas tarifas de energia elétrica e o aumento dos impostos para os ricos.
O Chile sempre foi apontado como um grande exemplo de política econômica bem sucedida, de viés neoliberal, que lhe garantiu os melhores indicadores da região. Entretanto, de repente descobriu-se que nem tudo são flores. A palavra “desigualdade” ganhou protagonismo nos últimos dias, com centenas de manifestantes insistindo que a diferença social entre pobres e ricos no país é excessiva. Segundo a última edição do relatório Panorama Social da América Latina, elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a parcela de 1% mais rica da população chilena manteve 26,5% da riqueza do país em 2017, enquanto 50% das famílias de baixa renda representavam apenas 2,1% da riqueza líquida. O sistema de aposentadorias é um dos pontos de maior insatisfação para os chilenos. Atualmente, os trabalhadores têm que depositar cerca de 12% dos salários em contas individuais, controladas por instituições privadas. Os aposentados recebem, me média, meio salário mínimo. Nas últimas décadas, houve um grande crescimento da classe média chilena, mas analistas dizem que é uma classe média precária, com baixas pensões, altos níveis de dívida e que vive muito de crédito e salários muito baixos.
Dessa forma, o sentimento entre os cidadãos chilenos é de que não houve resposta dos governos a um problema que se arrasta há décadas. A situação vivida no Chile hoje é um recado para os demais governos da região, inclusive o brasileiro.