Opinião
Pais agressivos

MILTON HÊNIO * Entra no consultório uma garota de nove anos, acompanhada de sua mãe. Contou-me a sua história clínica e passei a examiná-la. Notei, então em suas costas, grandes escoriações, assim como no rosto. Indaguei a causa daquilo. A menina respondeu prontamente: ?Foi uma surra de papai?. E seu pai dá em você desse jeito? ?Se dá??, exclamou. A mãe disse baixinho e cabisbaixa: ?É horrível, doutor, é horrível aquele homem, só falta matar as crianças de surra!?. Vocês já pensaram que barbaridade um pai surrar um filho ou uma filha, até ele desmaiar? Que espécie de homem é esse? São verdadeiros ?pais problemas?. As revistas estão cheias de título de ?crianças-problema? que merecem estudo e ajuda. Entretanto, esses ?pais-problema? é que derramam no mundo uma infinidade de seres atormentados, angustiados, complexados, desajeitados e cheios de ódios. Existem vários tipos desses ?pais-problema?: - os que são naturalmente grosseiros ? ?Venha cá, seu peste, por que você chegou a uma hora dessa?? E tome tapa no rosto do filho; existem os alcoólatras que dão na mulher na frente dos filhos; dão neles e quebram tudo. Há, enfim, uma variedade de tipos mas, em síntese, o problema é o mesmo ? surrar os filhos, seja qual for a causa. ?A punição física ? escreveu Neil ? é sempre um ato de ódio, e disto vai despertar um sentimento de revolta na alma infantil?. Zulliger, psicólogo francês, recolheu confissões de crianças entre 10 e 13 anos, açoitadas pelos pais (pai e mãe). Em geral são pais que castigam mais do que as mães. Vejamos algumas delas: De um menino batido pelo pai: ?Quando o meu pai chega e me bate, eu o olho de uma maneira má e no fundo de mim mesmo eu o detesto?. Outro: ?Eu grito muito quando ele me açoita com a palmatória; então ele pára; os gritos lhe mexem com os nervos?. De uma menina de 13 anos: ?Não mais me esqueci, quando ele disse?: ?Você está namorando, sem vergonha, e passa a bater-me. Tive pena dele pela sua ignorância?. Por aí vocês vêem que revolta sente uma criança ao ser surrada. A alma infantil é naturalmente dócil, e nenhuma criança pode ser educada com murros e pontapés. É uma pena que existam pais assim que educam maltratando, criando a sua própria solidão para a velhice, e filhos sofridos e magoados. A educação pelo amor, pelo companheirismo, pela amizade, essa é que deveria existir na vida de todo homem. Impressões desagradáveis têm um efeito horrível na vida da criança. Elas decidem o futuro do garoto. Romain Rolland diz com razão: ?O vinho conserva o aroma do primeiro tonel. E a alma humana traz o selo de uma juventude frustrada?. É difícil mudar o temperamento das pessoas. Esses homens ou mulheres que são pais e mães, e que educam pela força, pelo terror, dificilmente modificarão o seu modo de pensar; eles que agüentem as conseqüências mais tarde. Aos jovens, aos adolescentes sofridos por esses métodos educacionais, quero dizer as palavras do Dr. Frank S. Caprio, do seu livro ? ?Meu filho, meu amigo ou inimigo? ? ?Se você é um adolescente, cuja vida doméstica é perturbada por ?pais-problema? procure enfrentar a situação com objetividade e, ao mesmo tempo, com compaixão?. Convencido pela sua observação realista de que seus pais não são tão compreensivos quanto você desejaria que o fosse, ainda assim se esforce por educá-los como você gostaria que eles o vissem; uma criatura com pontos fortes, pontos fracos e problemas. Nos momentos de maior desânimo, console-se com a certeza de que haverá o amanhã, que você tornará melhor do que o presente. (*) É MÉDICO