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Nº 5759
Opinião

Pais agressivos

MILTON HÊNIO * Entra no consultório uma garota de nove anos, acompanhada de sua mãe. Contou-me a sua história clínica e passei a examiná-la. Notei, então em suas costas, grandes escoriações, assim como no rosto. Indaguei a causa daquilo. A menina respond

Por | Edição do dia 17/03/2002 - Matéria atualizada em 17/03/2002 às 00h00

MILTON HÊNIO * Entra no consultório uma garota de nove anos, acompanhada de sua mãe. Contou-me a sua história clínica e passei a examiná-la. Notei, então em suas costas, grandes escoriações, assim como no rosto. Indaguei a causa daquilo. A menina respondeu prontamente: “Foi uma surra de papai”. E seu pai dá em você desse jeito? “Se dá?”, exclamou. A mãe disse baixinho e cabisbaixa: “É horrível, doutor, é horrível aquele homem, só falta matar as crianças de surra!”. Vocês já pensaram que barbaridade um pai surrar um filho ou uma filha, até ele desmaiar? Que espécie de homem é esse? São verdadeiros “pais problemas”. As revistas estão cheias de título de “crianças-problema” que merecem estudo e ajuda. Entretanto, esses “pais-problema” é que derramam no mundo uma infinidade de seres atormentados, angustiados, complexados, desajeitados e cheios de ódios. Existem vários tipos desses “pais-problema”: - os que são naturalmente grosseiros – “Venha cá, seu peste, por que você chegou a uma hora dessa?” E tome tapa no rosto do filho; existem os alcoólatras que dão na mulher na frente dos filhos; dão neles e quebram tudo. Há, enfim, uma variedade de tipos mas, em síntese, o problema é o mesmo – surrar os filhos, seja qual for a causa. “A punição física – escreveu Neil – é sempre um ato de ódio, e disto vai despertar um sentimento de revolta na alma infantil”. Zulliger, psicólogo francês, recolheu confissões de crianças entre 10 e 13 anos, açoitadas pelos pais (pai e mãe). Em geral são pais que castigam mais do que as mães. Vejamos algumas delas: De um menino batido pelo pai: “Quando o meu pai chega e me bate, eu o olho de uma maneira má e no fundo de mim mesmo eu o detesto”. Outro: “Eu grito muito quando ele me açoita com a palmatória; então ele pára; os gritos lhe mexem com os nervos”. De uma menina de 13 anos: “Não mais me esqueci, quando ele disse”: “Você está namorando, sem vergonha, e passa a bater-me. Tive pena dele pela sua ignorância”. Por aí vocês vêem que revolta sente uma criança ao ser surrada. A alma infantil é naturalmente dócil, e nenhuma criança pode ser educada com murros e pontapés. É uma pena que existam pais assim que educam maltratando, criando a sua própria solidão para a velhice, e filhos sofridos e magoados. A educação pelo amor, pelo companheirismo, pela amizade, essa é que deveria existir na vida de todo homem. Impressões desagradáveis têm um efeito horrível na vida da criança. Elas decidem o futuro do garoto. Romain Rolland diz com razão: “O vinho conserva o aroma do primeiro tonel. E a alma humana traz o selo de uma juventude frustrada”. É difícil mudar o temperamento das pessoas. Esses homens ou mulheres que são pais e mães, e que educam pela força, pelo terror, dificilmente modificarão o seu modo de pensar; eles que agüentem as conseqüências mais tarde. Aos jovens, aos adolescentes sofridos por esses métodos educacionais, quero dizer as palavras do Dr. Frank S. Caprio, do seu livro – “Meu filho, meu amigo ou inimigo” – “Se você é um adolescente, cuja vida doméstica é perturbada por “pais-problema” procure enfrentar a situação com objetividade e, ao mesmo tempo, com compaixão”. Convencido pela sua observação realista de que seus pais não são tão compreensivos quanto você desejaria que o fosse, ainda assim se esforce por educá-los como você gostaria que eles o vissem; uma criatura com pontos fortes, pontos fracos e problemas. Nos momentos de maior desânimo, console-se com a certeza de que haverá o amanhã, que você tornará melhor do que o presente. (*) É MÉDICO

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