Opinião
A juventude japonesa

DOM EDVALDO G. AMARAL * Normalmente, a Globo do Japão transmite, ao vivo, às 8h15 da manhã, o Jornal Nacional, que naquela hora aí está sendo transmitido, às 20h15, do dia anterior. Mas num sábado desses, em Ueda, onde fui encontrar-me com um grupo de brasileiros, assisti à noite, ao Jornal Nacional do dia anterior, que estava sendo reproduzido por gravação. A Globo estava apresentando uma série de reportagens sobre o tema ?Juventude Urbana?. Pensei, então, em escrever umas palavras sobre o que vejo aqui na juventude japonesa. Comecemos pelo tipo de estudo. Estou hospedado no Salesiano de Yokohama, que tem o nome ?Salesio Gakuin? ? Escola Salesiana. É exclusivamente masculino. Os colégios particulares, mantidos por religiosos, não são mistos. Na verdade, o colégio, construído pelos Salesianos e por eles mantido, pertence ao governo, no sentido em que nada se poderá fazer, se o governo não autorizar. Por exemplo, destinar o prédio a outra finalidade, trocar o sistema escolar e qualquer outra modificação substancial. Os alunos, em sua maioria, não são cristãos. A família confia o filho ao colégio e se sente libertada de ulterior responsabilidade. Se o menino não sair bem nos estudos, na formação, na preparação para a universidade, a culpa é do colégio, a família já fez o que devia fazer. Escolheu um colégio bom em que confia, paga as devidas taxas e está terminada sua obrigação. Aqui, em Yokohama, os alunos vêm para as aulas de segunda a sábado, incluindo algumas atividades, sobretudo esportivas e artísticas também no domingo. Assim, grande número de alunos passa a semana inteira no colégio. As aulas são das 8h30 às 16h, com o almoço na própria escola. Das 16h às 18h, os alunos têm outras atividades, como ginástica, canto, competições esportivas, etc., saindo do colégio diariamente, às 18h. O ano letivo vai dos primeiros dias de abril até as últimas semanas de março do ano seguinte, com cerca de uma semana de suspensão das aulas entre um ano letivo e outro. Em julho e agosto, há as férias propriamente ditas de 40 dias, no meio do ano escolar, quando no arquipélago japonês faz um calor tremendo. Essa é a situação do estudo, com grande exigência do preparo do professorado. Esse, aqui no Salesio Gakuin, dispõe de uma sala enorme, toda equipada com um birô para cada professor, a maioria deles trabalhando com computadores. O estudo, como se vê, é muito exigente. Alguns jovens brasileiros, vindos para cá para trabalhar, caem em profunda depressão, ou por falta de preparo intelectual à altura dos jovens japoneses ou por desconhecerem a língua ? dificílima ? e por isso, não encontram logo trabalho. Há algumas semanas, um jovem brasileiro atirou-se na frente de um ?shinkansen?, o trem-bala. A juventude japonesa procura imitar bastante os padrões de vida do jovem americano. Desde a prática do beisebol aos tênis americanos e os jeans, até a pintura dos cabelos, que as jovens desejam tanto tê-los louros, quando não há nenhuma loura natural nascida aqui. O pior problema familiar pastoral, que atinge também a juventude, é o fato, bastante comum, de o homem, casado no Brasil, aqui sozinho, passar a viver com uma brasileira, que encontra também só, mas avisando a ela que, quando retornar ao Brasil, voltará para sua esposa e filhos, que aí ficaram, recebendo ajuda. Ou então, estando aqui sozinho, traz uma mulher para sua casa e quando a esposa chega, encontra outra no seu lugar. Esse é um dos grandes desafios para a Igreja, neste país da prosperidade, da ordem e da eficiência em tudo e por tudo. (*) É ARCEBISPO EMÉRITO DE MACEIÓ, ORA EM VIAGEM MISSIONÁRIA NO JAPÃO