Opinião
Morte da lagoa

LUIZ GONZAGA BARROSO FILHO * ?A minha lagoa está morrendo. É mais uma quaresma sem a gente ganhar um dinheirinho!? O lamento atormentado de um velho pescador, diante da última mortandade de peixes verificada na Lagoa Mundaú, traduz o sentimento de milhares de pessoas que sobrevivem daquele importante recurso hidrográfico que agoniza, vítima da poluição e da inoperância das autoridades. Há mais de trinta anos que os ambientalistas vêm chamando a atenção para o processo de degradação da lagoa que banha o Maceió, Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte, e já foi um rico manancial de pescado. Antigamente, costumava-se dizer que em Maceió ninguém morria de fome, pois, quem quisesse comida bastava ir à Lagoa Mundaú e lá encontrava com facilidade peixes, moluscos e crustáceos, tais como: bagre, carapeba, camorim, curimã, tainha, maçunim, sururu, unha-de-velho, camarão e siri. Hoje, isso já não pode ser mais constatado, devido à escassez e ao desaparecimento de algumas espécies. A poluição e o assoreamento da Lagoa Mundaú são questões de extrema gravidade que se estampam com a mortandade de peixes cada vez mais freqüente, nos últimos anos, aos olhos dos representantes dos poderes públicos, que permanecem omissos e sequer cumprem a legislação ambiental para punir aqueles que teimam em agredi-la. Embora as causas da poluição da lagoa sejam conhecidas dos técnicos em meio ambiente e até dos leigos, que apontam o saneamento básico, a dragagem de alguns trechos e campanhas de educação ambiental como ações a serem implementadas para revitalizá-la, as autoridades governamentais vêm tratando o problema com desdém, como se lixo doméstico, detritos industriais e coliformes fecais fossem coisas inofensivas, e nada fazem para impedir a crescente contaminação. Como se sabe, a grande quantidade desses agentes despejados na lagoa dificulta a oxigenação das suas águas e ocasionam a morte dos peixes. No entanto, contrariando a opinião de estudiosos e de pescadores, o Instituto do Meio Ambiente informou que um fenômeno natural conhecido como ?verdete?, foi o responsável pela última mortandade, conforme publicação no Diário Oficial do Estado, de 15/02/2002. Se a conclusão dos técnicos do governo, nesse caso, foi divulgada apenas no sentido de dar uma satisfação à população, trata-se de uma atitude inominável que precisa ser reprimida com rigor, por ser irresponsável e demonstrar que não existe nenhum interesse na solução do problema. Enquanto isso, a bonita Lagoa Mundaú está agonizando e, se não houver um esforço coletivo para salvá-la, em breve tempo, sua morte não será somente pranteada, mas também deixará como legado mais um problema social de trágicas conseqüências para Alagoas. (*) É ADVOGADO E MEMBRO DA ASSOCIAÇÃO ALAGOANA DE IMPRENSA.