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terça-feira, 08/07/2025 | Ano | Nº 6005
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O vers�o do mosquito

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MARCOS DAVI MELO * O comboio de carros de combate foi percebido ao longe pelo estrilo das sirenes. Logo, a orla de Maceió via passar na manhã de sábado passado o batalhão de infantaria motorizada em direção às trincheiras da frente de batalha. Convenientemente, a ordem para iniciar as hostilidades fora dada no Papódromo, como a pedir o auxílio celestial para aniquilar o traiçoeiro inimigo: o mosquito. Já estava vestindo a camiseta apropriadamente distribuída pelo Conselho Estadual de Saúde para o dia D, portanto, engajado na ?blitzkrieg? comandada pelo dinâmico e zeloso secretário estadual de Saúde, Álvaro Machado. Está se fazendo o que se pode aqui. Minha integração às fileiras antidengue, porém, começara antes. Há duas semanas, por motivos profissionais, necessitara fazer uma viagem ao Rio de Janeiro. Eram só dois dias e embora fosse me alojar na zona sul e estivessem previstas atividades somente em recintos fechados no centro, viajei com medo do pernilongo. Temor que nunca me incomodou em relação a propalada violenta marginalidade da cidade, nas inúmeras vezes em que para ali me dirigi nos últimos anos. Reconheço para meus três fiéis leitores: tive mais medo do minúsculo inseto carioca que de qualquer parrudo marginal da favela do Vidigal, com seu arsenal de ?marine? norte-americano. Apreensão que só aumentou com a chegada ao Aeroporto do Galeão, onde o taxista foi logo relatando que estava retornando das duas piores semanas de sua vida, abatido pela dengue ? já pela segunda vez. Na volta para o aeroporto, o taxista era outro, mas a história era exatamente a mesma. Aí, ufa! Já estava me safando e pela primeira vez, senti alívio ao deixar a cidade maravilhosa. O medo, presumo, é compartilhado com outros contribuintes, a medida que acompanharmos não só pela mídia como pelo depoimento de pessoas conhecidas por sua sólida saúde e que foram derrubadas inapelavelmente pelo mosquito. Figuras antes saudabilíssimas, fustigadas pelo inseto, comeram o pão que o diabo amassou. Em média ficaram dez dias acamadas, moídos os ossos e cartilagens, desidratadas pela febre alta e afastadas totalmente dos seus compromissos. Muito se comentou na mídia sobre em quem recairiam as responsabilidades no caso da epidemia no Rio de Janeiro, e quiçá no restante do País. Se aos governos federal, estadual ou municipal. Como era de se esperar ninguém assumiu o ônus. É compreensível. São todos adversários em ano eleitoral, o que dificulta qualquer avaliação técnica do caso. O que não significa que este episódio pré-Osvaldo Cruz não mereça uma avaliação mais criteriosa. Respeitemos em princípio o ponto de vista de todos e partamos do pressuposto de que todos fizeram o que deviam e a epidemia seria inevitável. Respeitemos o ponto de vista de todos, inclusive o das vítimas e o dos que prezam acima de tudo os fatos e não as suas versões. Afinal, é uma enfermidade que já tinha sido banida do País, no tempo de nossos avós, quando éramos bem mais pobres e cientificamente menos desenvolvidos. Apurar as responsabilidades, não como caça às bruxas, mas como fundamento, para evitar, se possível, recorrências no futuro. Senão, vai prevalecer a versão do mosquito, esta criatura irresponsável, vil e abominável inseto que é. O único que até agora só picou, sugou, engordou, multiplicou-se e não foi ouvido. O iníquo, insidioso e ínfimo animal, entre uma refeição e outra, recheia a sua pança com o nosso sangue e satisfeita a sua gula, vai debochar de todos nós. ?Tá pra mim, não adianta fumacê, inseticida, secar as minhas piscinas, usar mata-mosquito com choque elétrico, o escambau. Enquanto aquele povo estiver obcecado em ganhar eleições eu vou fazer a festa. Não vai ficar canela sem sua picada. Tá pra mim?. (*) É MÉDICO

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