Opinião
Ziegel e Z�lig

EDUARDO BOMFIM * Pode ser até um ?irresponsável?, como afirmou o presidente FHC, mas o relator especial da Comissão de Direitos Humanos para o ?Direito à Alimentação? das Nações Unidas?, Jean Ziegel, falou sobre assuntos concretos da realidade brasileira. O homem do órgão internacional, investido do prestígio que lhe confere a entidade, possui um nome quase idêntico a um personagem de Woody Allen, ?Zélig?, um psicopata pra lá de megalômano, que alterava feições e personalidade de acordo com quem lhe infundia admiração. Era um camaleão físico e mental. Duvido que o alto dirigente da ONU padeça de mal semelhante mas as Nações Unidas é meio parecida com este perfil. Adaptam-se obsequiosamente aos ditames do império norte-americano com incrível facilidade. Frágil em relação aos bombardeios e invasões dos EUA e seus aliados, por todo o mundo. Nenhuma palavra sobre a crescente vietnamização da Amazônia e os terríveis males ambientais que estão ocorrendo através da utilização de poderosos e condenados herbicidas, desmatando áreas consideráveis da imensa floresta. Com a palavra os nossos ecologistas. A América do Sul era a única região do mundo, livre da presença militar americana ou outra qualquer. Já não é mais. Existem bases gringas no Equador, Guiana e Peru. ?O Plano Colômbia? é a aceleração deste processo de militarização do continente e a anexação armada do complexo amazônico. Nenhuma ação concreta da ONU contra o massacre do povo palestino. No máximo, uma ?diplomacia de punhos de renda?, enquanto os sionistas de Israel, mesmo com crescente oposição do seu próprio povo, massacram impiedosamente a outra nação. O mundo dá muitas voltas. Os israelenses sofreram horrendo holocausto durante a segunda guerra mundial, vitimados pela selvageria hitlerista, tatuados nos braços para serem melhor identificados. Eis que agora são os tatuados que marcam no braço um outro povo. E os EUA, assobiando, olhando para o céu e apoiando. Dizem que os americanos em breve vão atacar mais uma vez o Iraque, onde já faleceram mais de um milhão de pessoas em conseqüência da guerra anterior e subseqüente bloqueio econômico, comercial e de alimentos. Além disso, a lista das próximas nações a serem ?exempladas? é volumosa. A ONU, com aquele prédio imponente e hoje inútil, nada faz contra o embargo comercial à pequena Cuba, que dura dezenas de anos. Igualmente, o governo FHC não pode esconder aos olhos do mundo as chagas decorrentes dos seus dois governos entreguistas e catastróficos. Paralisação industrial, analfabetismo, criminalidade crescente, desemprego, epidemias que reaparecem após quase um século depois de debeladas, subserviência exemplar aos ditames do Fundo Monetário Internacional através da sangria de divisas, privatizações espúrias e constitucionalmente ilegais, assim como a reforma da carta magna de 1988, massacre dos servidores públicos, destruição de conquistas trabalhistas. E muito mais que a propaganda enganosa não consegue esconder do povo que sofre no bolso e na carne. A ONU e o governo brasileiro precisam mudar. São cúmplices desta situação toda. É muito ?Zélig? no mundo de hoje. (*) É ADVOGADO