Homens de C�sar
RONALD MENDONÇA A mulher de César não só tem que ser honesta, mas também, de parecer honesta. Essa clássica recomendação varou os tempos e de quando em vez é ressuscitada, servindo de gancho para alguns comentários, como os de agora. Acredito até que a
Por | Edição do dia 23/03/2002 - Matéria atualizada em 23/03/2002 às 00h00
RONALD MENDONÇA A mulher de César não só tem que ser honesta, mas também, de parecer honesta. Essa clássica recomendação varou os tempos e de quando em vez é ressuscitada, servindo de gancho para alguns comentários, como os de agora. Acredito até que algum marido, metido a intelectual, tenha, em momento pouco feliz, soltado essa frase machista para uma devotada esposa. Involuindo, por motivos óbvios, a embrionária e aparentemente promissora candidatura de Roseana Sarney, os brasileiros estão na expectativa de que a qualquer momento possam estourar na praça novas bombas H, que mandem para o espaço outras pretensões partidárias e/ou pessoais. Há um mês, quando a governadora ameaçava liderar a lista dos presidenciáveis, já eram previsíveis os bombardeios ao seu nome, não por ser mulher, como ela tentou fazer crer, mas pelos lastimáveis índices sociais do seu Estado que punham e põem em xeque a capacidade administrativa dos Sarney e aliados. Havia, é claro, outras feridas a cutucar, como o expressivo enriquecimento do clã, os tempos de presidência do chefe e um calcanhar de Aquiles chamado Murad, o genro-esposo unigênito. Sagaz, o consorte livrou-se de graves acusações no fim do governo do sogro, mas dessa vez, surpreendido com toda aquela grana, e ainda mais sendo réu confesso, está difícil de escapar ileso. O fato é que a casa, construída sobre as areias do Calhau, ruiu no primeiro sopro sem que houvesse necessidade de os opositores utilizarem o imaginável-poderoso arsenal de dossiês. (Quando a candidatura da jovem governadora ganhou fôlego, houve quem vislumbrasse semelhança com o que ocorreu nos Estados Unidos: o filho de um ex-presidente ser eleito para o mesmo cargo ocupado pelo pai, coincidência que de alguma forma era vista como de bom augúrio.) Hoje, quando ainda repercute o discurso do senador, de par qualificativo pejorativo largamente repetido para minimizar o teor das suas denúncias há a certeza de que político é coisa para pro-fissionais. Imagine-se, por exemplo, que o presidente, sendo acusado de grave omissão em vários episódios cabeludos envolvendo grampos, compra de votos, liberação de verbas para obras suspeitíssimas, etc., sentiu-se ultrajado, unicamente, por uma suposta presença de observadores da ONU, que acompanhariam o atual processo eleitoral!(?) Enfim, é briga de cachorro grande e a hora é de recolhimento à prudência da máxima romana, com o cuidado de estender as recomendações de honestidade também aos homens dos postulantes a César. E aos próprios. (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL [email protected]