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Opinião

57 anos de Medicina

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Por MILTON HÊNIO. médico e integrante do Conselho Estratégico da Organização Arnon de Mello. | Edição do dia 14/12/2019 - Matéria atualizada em 14/12/2019 às 06h00

Era a noite do dia 15 de dezembro de 1962. O céu estava belíssimo, coberto de estrelas. Eu, com meus 25 anos de idade, exultava de alegria pela conquista de duas vitórias: o meu diploma de médico e a presença de meu pai ao meu lado, já desenganado pela medicina há vários meses. Foi imensa a minha felicidade quando o vi, com os olhos cheios de lágrimas como a dizer: “venci a morte, meu filho, para estar ao seu lado”. Três meses depois ele partiu para sempre.

57 anos já se foram. Éramos 14 os doutorandos de medicina. Todos estudiosos, unidos e apaixonados pela profissão. O tempo passou, e hoje já não o somos. Infelizmente José Cândido Vieira, Nehemias Rodrigues de Alencar, Roberto Maia Mendonça e Maria Francisca Vieira partiram para a eternidade. Sem termos a alegria da presença deles neste momento, resta-nos realizar o prodígio maior e dos mais vivos sentimentos humanos, que é a recordação. Diz a ciência que os astros também morrem, mas a luz que continua a nos chegar, testemunha a sua presença no passado. Assim, são as pessoas queridas que já se foram. Hoje, 57 anos depois aqui estamos, eu, Aldo Molina, Antônio Dantas Lima, Everaldo Lemos, Helenilda Veloso Pimentel, Ivanize Maciel Ribeiro, Mário Alves de Souza, Mariza Ferreira Marinho, Sofia Marinho Lopes de Farias e Tácito Augusto Medeiros já não tão cheios de vitalidade combativa pelo desgaste do tempo, mas ainda fiéis aos mesmos ideais da mocidade, dos mesmos sentimentos à Medicina e com a mesma convicção que nos fez sonhar os sonhos do cavalheiro andante, a serviço da Medicina como profissão e da profissão como ideal de vida. Pelos caminhos do tempo onde me gastei, fui deixando pedaços da minha vida. Vi choros, gemidos, lágrimas, mas também vi o sorriso de crianças voltando à vida e milhões de bracinhos cheios de encanto que me envolveram e me envolvem ainda hoje nessa caminhada de médico de crianças. Apesar do tempo a alegria de conviver com a criançada é tão grande que eu sinto como se estivesse começando. Lembro-me com saudade e emoção dos meus dedicados professores, que examinavam com paciência e precisão seus doentes. Aprendi nesses 57 anos de medicina, convivendo com a doença e os doentes, com os adultos amigos e familiares, que a perda da saúde nos predispõe a compreender os mistérios da vida. Hoje tudo mudou no campo da medicina. Apesar de toda tecnologia o médico, só o médico, pode compreender pela sua grande missão, que independente da enfermidade existe um remédio de real importância para o doente e que nenhuma farmácia vende, que é a palavra do médico. Caminhamos durante todos esses anos e compreendemos que existem pedras no caminho da existência e que todas podem ser removidas com fé em Deus, esforço e obstinação. Foi o que eu e meus colegas fizemos. Obrigado, Senhor, pelos meus 57 anos de medicina e ajudai, a mim e aos meus colegas do passado, a continuar sermos úteis no exercício de nossa profissão.

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