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Opinião

O tempo de fazer sexo

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Por Agamenon Magalhães Júnior. ensaísta, gramático e educador | Edição do dia 15/01/2020 - Matéria atualizada em 15/01/2020 às 06h00

Existem várias formas de perceber o tempo passar: alguns apenas olham os ponteiros do relógio se moverem; outros começam a contar os fios de cabelos brancos e tem gente que o mede por meio da quantidade de remédios que toma diariamente. Minha ampulheta é diferente. Eu percebo os anos se acumularem sobre meus ombros pelo crescimento de meu filho. Cada etapa ultrapassada por ele me faz atentar para o fato de que os anos se acumulam - numa soma implacavelmente matemática.

Alguns dias atrás, meu menino me perguntou algo sobre sexo. Ele já me fez perguntas difíceis, mas essa – admito – foi a pior. Na hora não me abati, com toda a “serenidade” que cabe a um pai “sabichão”, fui logo pensando numa resposta curta e simples. Não consegui. Quando tentei falar, apenas gaguejei. E não foi só isso: enquanto meus lábios se moviam, num balbuciar quase epilético, duas gotas de suor rolaram do canto esquerdo da testa. O assunto esquentou aquela noite fria de outono. Eu me vi, no auge de minha condição de pai, sem palavras, suando e mais “engasgado” do que carro velho. Minha primeira explicação sobre o tema não o convenceu: “Meu fi-fi-filho, se-se-sexo é um tipo de na-na-namoro entre adultos”. Ele me olhou e, decidido, disparou à queima-roupa: “Certo, papai, mas por que ‘fulano’, personagem de Malhação, tem 14 anos e já fez sexo? Não é só pra adultos? E não é só isso, papai: a namorada dele está grávida!” Nessa hora eu já estava preocupado com que lhe diria, optei por fazer uma referência à importância da ficção. Disse-lhe que a televisão – assim como a literatura, o cinema e outras formas de arte – se valem de situações para mostrar o caminho mais adequado a quem se dispõe a aprender por meio da fantasia ou do lúdico.

Foi nessa conversa com meu garoto que eu senti a importância de outras duas instituições sociais aptas à orientação sexual do jovem: a escola e a igreja. Além dos cuidados familiares – as aulas de ciências (no Ensino Fundamental) e de biologia (no Médio) ajudam o jovem a entender o processo funcional do sexo. E é por meio da igreja (junto com a família, insisto) que o jovem entende a sexualidade como um assunto que envolve maturidade, comportamento, responsabilidade e (não só) prazer. Há uma linha pedagógica (e moral também) que cirze essas três bases (família, escola e igreja) a um conjunto indispensável ao caráter, cuja harmonia resulta em conhecimento e maturidade. Sexo ainda é assunto tratado entre pais e filhos com “restrições”.

Por mais modernos que sejam os pais, o tema deixa-os pouco à vontade, seja por causa da diferença entre as gerações, seja porque a orientação sexual dada aos filhos exija, por parte dos responsáveis, uma grande parcela de esclarecimento, tolerância e amor. A respeito da conversa franca sobre sexo que tive com meu João Guilherme... sem omitir nenhuma informação apropriada para um garotinho curioso de cinco anos, orientei-o, dei-lhe conteúdo para que suba mais um degrau na compreensão do assunto. Minhas palavras foram mais do que suficientes para ele se informar sobre o tema (e para eu perceber a implacabilidade do tempo comigo).

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