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Nº 5693
Opinião

Tire seu preconceito do caminho

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Por Paulo Memória – jornalista e cineasta | Edição do dia 16/01/2020 - Matéria atualizada em 16/01/2020 às 06h00

Maceió já começa o ano de 2020 com um polêmico caso de preconceito contra o direito a individualidade de um cidadão que fez opção pessoal pela sua orientação sexual. No último dia 3 de janeiro, em um conhecido e frequentado shopping center da cidade, situado no populoso e popular bairro do Benedito Bentes, uma mulher trans chamada Lanna Ellen foi expulsa do banheiro feminino pelos seguranças daquele grande centro comercial após reclamação de uma frequentadora do mesmo, que teria ficado incomodada e constrangida pela presença de Ellen no banheiro pretensamente reservado para o uso exclusivo das mulheres. Nada, no entanto, poderia ser mais constrangedor do que este preconceito medieval de parte da classe média brasileira, que parece ainda não ter ingressado no século XXI.

Qual a fronteira que delimita os direitos pessoais de um cidadão cumpridor de seus deveres e em dia com seus compromissos fiscais e institucionais? Até onde sabemos, a mulher trans confrontada pela truculência dos seguranças do shopping é uma pagadora dos seus impostos, estando, portanto, quites no que diz respeito à legalidade da sua cidadania, dentro do contexto do Estado Democrático de Direito. As pessoas envolvidas diretamente neste episódio, sequer sabem distinguir o que é um gay, mulher trans, lésbica, travesti, bissexuais, transgêneros, cisgêneros, binário, não-binário, andrógino e mais umas 40 variáveis de orientações sexuais existentes. Para entender esta temática, assistam ao premiado Tangerine, um arriscado e revolucionário longa-metragem do diretor Sean Baker, de 2017, filme feito integralmente com três celulares iPhone, que revela o moderno cenário transexual de Los Angeles.

A complexidade deste tema vem sendo discutida há décadas, quiçá séculos, pois os registros de relações homossexuais entre as diversas espécimes animais, dentre os quais os humanos, têm registros que remontam a idade antiga. A possibilidade de um relacionamento gay entre Alexandre, o Grande e um dos seus seguidores, Hefestius, já é algo aceito historicamente. Existem fortes indícios de que grandes personagens históricos universais, a exemplo de Socrates, Leonardo da Vinci, Júlio César, Ricardo Coração de Leão e mesmo o temido capitão nazista Ernest Röhm, tiveram relacionamentos com homens. Até o conservador sociólogo brasileiro Gilberto Freyre admitiu, em famosa entrevista a revista Playboy, ter tido relações homossexuais na juventude. Esta ocorrência no shopping de Maceió, reacende a questão da discriminação e a relação de ódio que está se consolidando na sociedade brasileira. O que mais me chamou atenção neste episódio, entretanto, foi a reação das pessoas que presenciaram a este ato de intolerância e desrespeito a cidadania e as garantias constitucionais de ir e vir, aplaudindo a prepotência dos seguranças na abordagem truculenta contra Lanna Ellen, como sendo esta a atitude que esperavam que efetivamente fosse tomada. O clima de ódio, racismo, homofobia, misoginia e descriminação de classe, revelam uma sociedade doente, que permite a ascensão de regimes totalitários e opressores, como o nazismo e o fascismo. Por tudo isso exijo, tirem o seu preconceito do caminho, que eu quero passar com a minha solidariedade.

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