Opinião
DISCURSO ELITISTA

Durante seu discurso ontem, no Fórum Econômico Social, em Davos (Suíça), o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o maior inimigo do meio ambiente é a pobreza, pois os pobres destroem a natureza porque estão com fome.
Entidades de preservação criticaram a fala do ministro. Para o Greenpeace, por exemplo, a declaração está cheia de equívocos e imoralidades, pois os pobres são, na verdade, as principais vítimas da destruição de rios, florestas e ecossistemas. Estudo realizado pela Oxfam em 2015 mostrou que os 10% mais ricos do planeta respondem por quase metade das emissões de dióxido de carbono, um dos gases de efeito estufa que causa o aquecimento global). Enquanto isso, os 10% mais pobres emitem apenas 1% desses gases. Esse mesmo relatório aponta que as mudanças climáticas estão ligadas diretamente à desigualdade econômica. A pegada de carbono deixada por apenas 1% da parcela mais rica da população pode ser 175 vezes maior do que a emissão de 10% da população empobrecida. Para o professor Carlos Nobre, o desmatamento de grande escala, principalmente da pecuária, não levou à pobreza.
Pelo contrário: atraiu muita gente para a Amazônia que chegou pobre e permaneceu miserável. Levantamento do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) mostra que 35% do desmatamento ocorrido entre agosto de 2018 e julho de 2019 (Prodes 2019) ocorreu em terras públicas não destinadas, um processo de grilagem. Em segundo lugar, estão os assentamentos, com 27%. Os ambientalistas ressaltam que existem modelos bem-sucedidos de aumentar produção de alimentos sem que seja necessário mais desmatamento. Por mais que se possa argumentar que, de fato, populações carentes, acabam agredindo o meio ambiente por necessidade ou ignorância, o fato é que a declaração de Guedes esconde um discurso elitista que isenta as grandes corporações, o capital especulativo e governos que têm pouco compromisso com a questão ambiental, como o atual governo brasileiro.