Opinião
Goebbels e a cultura
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Esta ficando cada vez mais óbvia a verdadeira natureza do governo de Jair Bolsonaro. A narrativa no contexto mais amplo dos integrantes dos vários escalões governamentais, não deixam margens à dúvidas para interpretações do que representam. Trata-se de um governo que, claramente, não possui um projeto de país observando os preceitos democráticos e de respeito ao Estado de direito. O presidente e seus ministros possuem um forte “viés ideológico”, que perpassa por praticamente todos os órgão que compõem as instâncias governamentais.
Além da falta de um projeto de governo e desrespeito a convivência democrática, a atual administração federal demonstra, cada vez mais, a sua ideologização em tudo que promove. O governo Bolsonaro tem revelado como seu eixo principal, a questão ideológica que o norteia, a partir das ideias de extrema direita defendidas pelo seu “ideólogo” maior, se assim podemos chamar o astrólogo e autointitulado filósofo, Olavo de Carvalho, que não por acaso mora nos Estados Unidos, país idolatrado pela família presidencial. Provocou evidente desconforto na sociedade brasileira, a recente divulgação de um vídeo institucional do então Secretário Especial de Cultura do governo Bolsonaro, um desconhecido e sem biografia chamado Roberto Alvim, para anunciar um suspeitíssimo Prêmio Nacional das Artes, reproduzindo um antigo pronunciamento, postura corporal e cenário de um discurso do ministro da propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, ao som da ópera Lohengrin, do músico nacionalista alemão Richard Wagner, que propagou as sagas nórdicas e era um anti-semita convicto, sendo o compositor preferido de Adolf Hitler. Como consequência do desastrado descuido em revelar seu pensamento neonazista, o tal Roberto Alvin foi exonerado por Bolsonaro da pasta do ex-ministério da Cultura, rebaixada a uma secretaria do Ministério do Turismo, dado o desprezo que o presidente da república tem pelo segmento cultural. Não há dúvidas de que a cultura está sob ataque. Se fosse possível, seria extinta pelo atual governo. A cultura é um segmento no qual existe o predomínio da esquerda, do que o filósofo italiano conceituava de hegemonia, na qual a superestrutura social exerce grande influência na estrutura da sociedade. Em outras palavras, a resistência ao nazifascismo evidente, se encontra nos agentes culturais nacionais progressistas, promotores do chamado pensamento crítico. Aqueles que fazem a cultura no Brasil, têm que sair da sua zona de conforto, para enfrentar o que os pensadores da Escola de Frankfurt, nomeadamente Adorno, Horkheimer e Marcuse, designaram, filosoficamente, de Massificação e Indústria cultural. Não por acaso a substituta de Alvin é uma decadente e reacionária atriz global. O filme Mephisto, de 1981, do cineasta István Szabó, explicita o perigo que estamos correndo em nosso país. Trata-se da história do ator Hendrick Höfgen, famoso no cenário teatral alemão no periódo da ascensão do Partido Nazista ao poder, por interpretar o personagem Fausto, que vendeu a alma ao demônio Mefistófelis, na peça inspirada no poema trágico “Fausto”, de Goethe. Tal como o Fausto da peça, este ator vende sua consciência (alma) ao Terceiro Reich, com consequências trágicas para a cultura e para o próprio personagem, interpretado brilhantemente por Klaus Maria Brandauer, que afirma na sua última frase no filme: “o que querem de mim, sou apenas um ator”.