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Opinião

Sofrimento de mãe

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Por Agamenon Magalhães Júnior. ensaísta, gramático e educador | Edição do dia 14/02/2020 - Matéria atualizada em 14/02/2020 às 06h00

Nenhuma mãe merece viver suficiente para sentir o padecimento atroz da morte dum filho. Comigo aconteceu coisa pior: vi meu filho ser preso injustamente e depois ser cruelmente assassinado. Só posso dizer que, do fundo do meu coração de mãe, ter testemunhado a morte do meu único filho foi a pior das dores. Nenhum sofrimento, por mais profundo que seja, se compara a esse. Eu mesma fiquei num estado de torpor. Só Deus mesmo para me ajudar naquela dor. Não sei como consegui. Precisei ser muito forte. Hoje, recordando-me de tudo, vejo que os desígnios de Deus são um mistério e só caberia a mim aceitá-los.

As pessoas me perguntam até hoje: “Por que essa tragédia aconteceu se seu filho era um homem de bem, justo e honesto?” Minha resposta é a mesma: “Por causa do preconceito e da discriminação dos homens”. O ser humano é injusto, ambicioso e assassino (mata seu semelhante por prazer). O homem é capaz de vender, sem pestanejar, seu próprio irmão por duas ou três moedas de ouro. Para sair das trevas, ele precisa se aproximar da Luz, que é Deus. Esse é o único caminho; fora disso é tudo ilusão. Sou uma mulher de fé e da Fé. E, se não fosse justamente isso, essa crença na Força Superior, não teria passado por tudo com dignidade e esperança. Todos sabem minha história: casei muito jovem e tive uma gravidez inesperada. E, apesar de eu ter ficado grávida sem me programar com meu marido, tive o apoio incondicional dele, que desde o começo se mostrou um paizão, com imenso orgulho pelo nosso filho. Combinamos que os primeiros anos de vida do nosso bebê seriam voltados para os parentes mais próximos, para que pudéssemos passar a ele os bons costumes e tradições familiares. De certa forma, nós o colocamos dentro duma redoma, protegendo-o da maldade do mundo. Deu certo. Meu menino se transformou num jovem sem igual. De natureza rara, sua bondade e seu temperamento logo se destacaram entre os jovens de sua idade. Uma vez ele me disse que tinha um tipo de missão divina que cumpriria porque já se sentia capaz. Aí começou a ajudar pessoas, a todas sem discriminação. Como mãe, confesso, eu sentia que ele tinha lá suas preferências: meu filho se dedicava aos pobres, injustiçados, carentes, miseráveis... Ajudou-os tanto que sua fama de homem especial excedeu os limites imagináveis. Infelizmente o carisma dele chamou a atenção de gente poderosa, sem escrúpulos e faminta de poder. Um dia eu estava com os meus e me disseram que o meu menino tinha sido preso. “Só pode ser engano”, pensei. Certo que ele era cheio de novas ideias, metido a revolucionário, tinha barba e cabelos longos (como todo jovem), mas não era criminoso. O pior estaria por acontecer. Meu filho não só foi preso, mas também foi condenado à morte pela mesma sociedade com que ele se preocupava. Vi meu filho ser maltratado. Bateram nele. Xingaram-no dos piores nomes. Sangraram-no até a morte como quem mata um animal. Apesar disso, não perdi a fé na humanidade. Deus e meu filho me ensinaram que o amor está acima de tudo, até mesmo da tragédia. Meu nome é Maria, casada com José e mãe de Jesus Cristo.

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