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quarta-feira, 30/07/2025 | Ano | Nº 6021
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O barão e o carnaval

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Uma tragédia nacional ocorreu naquele sábado, 10 de fevereiro, uma semana antes do Carnaval de 1912: morria de insuficiência renal o Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores, que gozava de imensa popularidade, pois concluíra o traçado das fronteiras nacionais, que incluíram a garantia para o País do oeste de Santa Catarina (disputado com a Argentina), em 1895, e a área que compreende o Amapá, Roraima, o norte do Pará e do Amazonas (disputada com a França), em 1900. Expansão extraordinária das fronteiras nacionais, superando imensos conflitos, utilizando eficazmente o pragmatismo e a boa diplomacia .

Houve imensa comoção nacional e o Brasil caiu em luto. No Rio de Janeiro, a então capital da República, uma multidão chorosa fez fila no Palácio do Catete para ver o cadáver de Rio Branco e acompanhou o caixão até o Cemitério do Caju, onde o ministro foi enterrado com honras de chefe de Estado. Dada a comoção generalizada, os clubes do País que organizavam bailes à fantasia, em especial no Rio, acharam que seria desrespeitoso promover a esbórnia em pleno período de luto, decidiram então, cancelar os bailes em cima da hora e remarcá-los para a semana da Páscoa. O problema é que para os foliões mais fanáticos, um mês e meio seria um período de espera longuíssimo e torturante. Uma semana depois, quando chegou o sábado de Carnaval, eles concluíram que uma semana de luto por Rio Branco já tinha sido suficiente. Assim, vestiram a fantasia e foram munidos de confete, serpentina e lança-perfume (o qual só seria proibido por Jânio Quadros, o da vassoura, em 1961) e caíram na farra. Passada a Quaresma, veio um Carnaval de bônus, mais diversificado do que no primeiro Carnaval, pois os foliões tanto brincaram nas ruas como nos bailes de máscaras dos clubes . Embora peculiar, essa festa dobrada de 1912 teria um antecedente relativo pouco mencionado na História: o Carnaval de 1892. Naquele ano, o Carnaval deveria ocorrer nos dias 28, 29 e 1º de março, todavia, o intendente municipal do Rio de Janeiro, major França Leite, foi convencido a transferir os festejos de Momo para os dias 26, 27 e 28 de junho, entre os dias de São João e São Pedro. A motivação foi “PRECAUÇÃO HIGIÊNICA”, pois o verão carioca era como ainda hoje é, uma quadra calamitosa, sujeita às chuvas, alagamentos e a propagação de doenças transmissíveis, que eram o principal fator de mortalidade. Diferentemente de 1912, o chefe de polícia determinou que se aprendessem nas ruas as pessoas, os grupos ou sociedades que desobedecem à determinação e utilizassem fantasias ou máscaras. A restrição estendeu-se às lojas que ousaram exibir esses itens, fechando-as até o fim do período. Os foliões mais obstinados foram obrigados a festejar enclausurados em suas anti-higiênicas moradias, o que elevou a incidência das enfermidades transmissíveis entre eles. O Carnaval oficial realizado no período junino, sob frio e chuva, foi um fracasso total e motivo de lamentação interminável dos foliões. No início do ano seguinte, a intendência municipal reconduziu o Carnaval para fevereiro, como era a tradição. O Carnaval é parte inalienável da cultura nacional, e assim precisa ser compreendido.

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