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Crase

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Quando falo aos meus alunos que crase é o assunto do momento, noto certa insegurança nos adolescentes. É verdade que até alguns adultos se pelam de medo no instante em que precisam aprender as regras (e exceções) desse assunto tão cobrado em concursos públicos. Tentemos diminuir esse receio de que o tema seja inatingível. Comecemos pelo conceito: crase (palavra que vem do grego, significa “fusão”) é a contração da preposição “a” com outro “a”, representado graficamente pelo acento grave (à). O princípio da crase só tem justificativa diante de palavras femininas, por exemplo: Os alunos foram à praia; Compareci à festa; Irei à cidade; Refiro-me à menina. Como regra geral, ao substituir o substantivo feminino pelo masculino, dando “ao”, é porque vai haver crase com o feminino: Entreguei a chave ao garoto (à garota); Dedico-me aos exercícios (às atividades); Ele é insensível ao machucado (à dor); Assistimos ao jogo (à novela).

O único caso em que se coloca acento grave antes de substantivo masculino é quando se pode subentender a expressão “à moda de” ou “à maneira de”: Ele escreve à Machado de Assis; Vesti um terno à Fernando Collor; José fez versos à Drummond; Uso sapatos à Fred Astaire. Deve-se ter atenção, em determinadas orações, ao contexto. Em muitos casos, o emprego ou não do acento grave provocará alterações de sentido. Estamos falando de semântica. Exemplo: O trabalhador cheira à gasolina (ele tem no corpo o odor do combustível), O trabalhador cheira a gasolina (ele inala o produto); À noite chegou (“ele”, que é o sujeito oculto, regressou ou voltou no período noturno), A noite chegou (“a noite”, que agora é o sujeito, se apresentou, se mostrou, surgiu); Eu abri à chave (destranquei algo – a porta, por exemplo – com a chave), Eu abri a chave (separei, dividi ou serrei a chave). Vale a pena lembrar três casos proibitivos de uso do acento grave: a) Antes de verbo: Ele começou a chorar; Passei a revisar os manuscritos; Estava disposto a ler o livro; Fiquei a observar o show. b) Diante de um “a” no singular o qual precede uma palavra (mesmo feminina) no plural: Vou a festas; Não me dirijo a pessoas estranhas; Eu me refiro a atividades escolares. c) Diante de expressões formadas por palavras repetidas: tomou o remédio gota a gota; Ele faz entregas porta a porta; João percorreu a chácara ponta a ponta; Eles se emocionaram frente a frente. Há dois casos optativos de uso do acento – sem que se modifique o contexto, a observar: a) Antes de pronome possessivo (feminino): Dei um presente à/a minha filha; Deram uma chance à/a tua proposta. b) Depois da preposição “até” quando ela indica “deslocamento, movimento, ação”: No espetáculo, fui até à/a galera; Ontem fomos até á/a loja de Maria; Dirigiu-se até à/a professora. Claro que essas informações não encerram completamente o assunto, nem é essa a minha intenção. O presente conjunto de orientações serve como norte para o bom uso do acento grave. Encerro o assunto com meu mestre Celso Pedro Luft, que assim filosofou sobre o tema ao escrever na Conclusão de seu livro “Decifrando a crase”: “Não há nenhuma regra a decorar: basta o raciocínio”.

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