Opinião
Tempos escoteiros
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Lá pelos meus 12 ou 13 anos fui escoteiro. Foi uma época muito bacana em que aprendi lições das quais me recordo com muito afeto. Os princípios de uma associação ligada à natureza caíram como uma luva para um pré-adolescente que gostava da aprendizagem em grupo, ao ar livre e com contexto disciplinar. E o escotismo, uma organização mundial fundada por Robert Baden-Powell, tem esse objetivo: reunir jovens para ensinamentos relacionados à arte da sobrevivência em terreno hostil, ao convívio social e, sobretudo, às primeiras experiências espirituais cristãs.
Enquanto participava do grupo escoteiro, aprendi de tudo um pouco: complexos nós de marinheiro, técnicas de primeiros socorros, orientação mateira por bússola, a arte da liderança e da convivência entre os diferentes, o valor da disciplina e do respeito aos mais velhos – tudo isso envolvido numa áurea incrível, em que absorvi princípios pelos quais eu luto até hoje: honradez, positividade, educação, entusiasmo e integridade são palavras pelas quais despertei meu interesse à época do escotismo e que as repasso aos meus. Todos nós (eu, meus irmãos e meus primos) contávamos as horas até a chagada do sábado, dia da nossa reunião. Adorávamos vestir o uniforme cheio de distintivos, colocar a boina, ajeitar o cantil no cinto, subir o meião cinza abaixo dos joelhos. Todo o ritual por que passamos serviu para que aquele tempo ficasse marcado como uma época de ouro, de boas lembranças. Esse é o espírito escoteiro. O escotismo dá ao jovem oportunidade de aprender certos ensinamentos que a escola tradicional não teria condições. Na realidade, o escotismo é o complemento educacional necessário à formação da juventude. Sinto falta de mais escoteiros no dia a dia das grandes cidades. Meu sobrinho Carlos Gabriel Magalhães entrou num grupo de escoteiros faz pouco tempo. Vejo seus olhos brilharem quando fala das atividades de que participa e como se sente bem e acolhido junto com os garotos de sua idade. Com os colegas de escotismo, meu sobrinho aprende lições de vida por meio de atividades lúdicas, cheias de informações sobre a vida, em especial relacionadas ao respeito à natureza. Gosto quando ele chega em casa e me conta os ensinamentos que lhe foram passados pelos chefes escoteiros a respeito de alimentação saudável, da preservação do meio ambiente, da ajuda ao próximo ou do trabalho em equipe.
Com atividades e diretrizes que vão da reflexão e autoconhecimento, da prática esportiva e de exercícios físicos, passando por compreensão intercultural, até o estímulo ao serviço comunitário – o espírito do escotismo vai se perpetuando num mundo em que os valores da vida muitas vezes são deixados de lado. Que os ideais de Baden-Powell, por meio da juventude, mostrem ao mundo que o homem deve ficar “sempre alerta” para a inteireza de caráter, para o humanitarismo e para a evolução espiritual. O próprio Baden-Powell nos ensinou: “Procurai deixar este mundo um pouco melhor do que o encontrastes e, quando chegar a hora de morrerdes, podeis morrer felizes sentindo que pelo menos não desperdiçastes o tempo e que procurastes fazer o melhor possível”.