Opinião
IMPACTO DISTINTO
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O novo coronavírus não distingue etnia, credo, idade ou condição social; infecta igualmente pobres, ricos, negros, brancos, jovens e adultos. Entretanto, o impacto da pandemia de Covid-19 será muito mais devastador na camada economicamente mais frágil da população.
Com pouca informação, vivendo em ambientes superlotados e sem condições de seguir recomendações simples como higienizar as mãos com água e sabão, ou comprar álcool em gel, estocar comida e trabalhar de casa, os moradores de habitações precárias serão as principais vítimas do novo coronavírus no Brasil. Até mesmo adotar medidas como quarentena ou isolamento nas comunidades se torna algo inviável, pois geralmente são famílias numerosas vivendo em habitações pequenas e sem acesso a serviços básicos como água e esgoto. No lado econômico, o impacto também será diferente. Famílias de classes mais altas dispõem de fontes variadas de renda; já as das classes mais baixas dependem da renda do trabalho e da renda de transferência. Com o aumento do desemprego, essas serão as mais afetadas. Um estudo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais concluiu que, num cenário projetado de queda de 0,14% do PIB e de 0,1% no nível de emprego, as famílias com renda até dois salários mínimos podem ter sua renda 20% mais impactada do que a média das famílias brasileiras. Outra agravante é que 40% dos brasileiros trabalham por conta própria e vivem de bico. Com as medidas de isolamento social, esses trabalhadores terão uma queda drástica de faturamento e terão de contar com algum tipo de proteção do poder público. Nessa hora, o governo deve deixar de lado a cartilha liberal e cumprir seu papel de garantir as mínimas condições de sobrevivência a todos os cidadãos, mesmo que tenham de abandonar temporariamente sua política de rigidez fiscal. Tem sido assim em diversos países, com pacotes de ajuda não só a empresas mas aos cidadãos, principalmente aos mais vulneráveis.