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Nº 5692
Opinião

Qual o pior dos inimigos?

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Por Aloísio Alves – Publicitário e membro efetivo da Apalca | Edição do dia 28/03/2020 - Matéria atualizada em 28/03/2020 às 06h00

O coronavírus assombra o mundo e mais fortemente os brasileiros. Infelizmente, estamos lutando contra dois inimigos: o maldito vírus e a interminável guerra institucional que envolve os poderes da República. As acusações de chantagem, antipatriotismo e as intenções antidemocráticas do executivo inquietam a muitos, justo quando todos deveriam estar em sintonia no combate à pandemia que pode deixar profundas cicatrizes nas famílias. São intolerantes as agressões de parte a parte, o palanque de campanha que não foi desarmado apesar de faltarem ainda três anos para a próxima eleição. O grande debate do momento tinha que ser o foco no combate ao terrível mal. O jogo de interesses pessoais, o olho em 2022 cega as “lideranças” que arrotam vaidade e puxam para si o protagonismo dessa luta. Vivemos um drama, estamos sob apreensão e medo. Medo da doença e da vaidade humana transformando um momento tão grave claramente em disputa política. No passado, o Brasil viveu terrível aflição por causa de graves epidemias que mataram milhares de pessoas. Que trouxeram consequências desastrosas econômicas e sociais. A gripe espanhola, que na verdade não nasceu na Espanha e sim nos EUA, provocou um caos em nosso país no ano de 1918, matando mais de 30 mil humanos. Inclusive o então Presidente da República, Rodrigues Alves. Eleito para o seu segundo mandato, não conseguiu tomar posse em 1919, o vírus o matou antes. Assumiu seu vice, Delfim Moreira, um homem doente, não pela gripe. Sofria das faculdades mentais e à época passava por crises psiquiátricas sérias. Alternava instantes sãos e outros de absoluta alienação da realidade. Os brasileiros tiveram que conviver e lutar contra dois males assustadores: a gripe espanhola, com todo o seu poder destruidor, e o Presidente que não tinha condições de governar em razão do seu desequilíbrio psicótico. Neste 2020, o Brasil luta também contra dois inimigos. O Covid-19 e a distonia dos poderes que não conseguem falar a mesma língua no combate à doença. Não enxergo como alguns propagam que há uma histeria do povo e da imprensa. O povo quer proteção, atitudes não desencontradas; a mídia cumpre o papel de informar, de levar e orientar a população, sobretudo o que acontece nesse momento crítico inclusive as verborreias e insultos entre autoridades. Em 1918, as atribuições administrativas e políticas durante oito meses foram exercidas pelo Ministro da Viação e Obras Públicas, Afrânio Melo Franco. Ainda no mesmo ano foi marcada uma eleição extra que elegeu Epitácio Pessoa para Presidente, tomando posse em 1919. A gripe espanhola chegou ao Brasil a bordo de um navio europeu que despejou passageiros infectados nos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Na Europa, por incrível que pareça, governantes usaram as forças armadas para censurar a imprensa a nada divulgar sobre a doença, porque não acreditavam na gravidade que a “gripezinha” trazia. O Brasil foi além: usou da repressão por forças militares evitando notícias sobre a propagação do mal. Aliás, fizeram grosseiro deboche menosprezando o efeito arrasador do vírus que exterminou mais de 30 mil vidas, entre crianças, jovens e idosos.

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