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Opinião

A vida tem pressa

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Por Editorial | Edição do dia 04/04/2020 - Matéria atualizada em 04/04/2020 às 06h00

A discussão em torno do que é essencial para enfrentar a disseminação do novo coronavírus - e seus efeitos em nosso meio – enveredou-se para uma espécie de dicotomia. Os sinais emitidos, por quem deveria exercitar o papel de maior liderança política do País, contribuíram para disseminar dúvidas e conflitos no lugar de união em torno de objetivos comuns.

É como se fosse real a impossibilidade de convivência de ações que não são conflitantes: a prática dos ditames técnico-científicos de prevenção à vida e a adoção de políticas compensatórias efetivas para sustentar a renda das famílias, acolher os vulneráveis e proteger as empresas e os pequenos negócios, que geram empregos e dinamizam a economia. Se a vida clama por urgência, a atividade econômica apela por um olhar de quem tem poder de decisão. Se, por um lado, a cientista social e professora da USP, Marta Arretche, pontua a proteção à vida, a ajuda emergencial aos desvalidos e a sustentação da renda das famílias e das empresas, por outro, o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, defende a saúde, a logística, e a assistência social e empresarial, com linha de crédito para pequenas e médias empresas. São tarefas e desafios que os governantes precisam operar com rapidez, sem delongas, como exige a coletividade. No atual estágio da pandemia, a questão que se coloca é sobre o tempo de resposta do poder público às demandas inadiáveis vindas dos desalentados, dos que estão nos grotões. Basta verificar o quadro em Alagoas, com a profusão de apelos efetuados por parlamentares e representações de entidades de classe e comunitárias. A vida tem pressa e não pode aguardar a lerdeza oficial para sobreviver com dignidade. Assim como os diversos setores da economia, com sua alta capacidade de geração de postos de trabalho e oportunidades.

E ainda convivemos com um agravante, que é o empobrecimento do nosso povo, o que exige ainda mais celeridade. Chegamos ao final de 2019 com 17,2% da população alagoana em situação de pobreza extrema, sendo considerada a segunda pior situação em nível nacional. De acordo com os dados aferidos pelo IBGE, são 570 mil pessoas que sobreviviam à época com menos de oito reais ao dia. Como estão elas agora? São excluídas da sociedade e do instagram governamental.

A rede de proteção social do Estado não saiu efetivamente do papel, embora seu funcionamento tenha sido reivindicado nesses últimos cinco anos. Agora, numa situação dramática, de clamor por socorro, tudo supera a urgência diante de um governante, que, lamentavelmente, é lépido para ativar “lives” e propalar maravilhas no universo virtual, enquanto que os mais necessitados convivem com a miséria e a desumanidade no mundo real.

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