Crian�as parindo
GILBERTO IRINEU * A cultura reprodutiva na adolescência, em franca ascensão, vem se estabelecendo mais precocemente do que no passado, ganhando feições dos contextos sócio-culturais em que se inserem, e sendo plasmado pelas linguagens e valores vigentes
Por | Edição do dia 28/03/2002 - Matéria atualizada em 28/03/2002 às 00h00
GILBERTO IRINEU * A cultura reprodutiva na adolescência, em franca ascensão, vem se estabelecendo mais precocemente do que no passado, ganhando feições dos contextos sócio-culturais em que se inserem, e sendo plasmado pelas linguagens e valores vigentes epocais. Nesse contexto se insere a cultura do ficar, que significa não ficar com responsabilidade, nem ter compromissos, não estabelecer laços sólidos e definitivos, mas ensaiar, experimentar, conhecer sensações, sem pudores, sem hipocrisia. Decorrentes desses encontros ou desencontros, constata-se um aumento expressivo da gravidez na pré-adolescência, como também, uma quantidade crescente de partos realizados em crianças entre 10 e 14 anos. Reconhecemos que o direito de nascer é um direito fundamental. Mas é preciso pensar na qualidade de vida, no suprimento das condições mínimas necessárias à dignidade humana. Das novecentas e vinte adolescentes grávidas oriundas das famílias mais pauperizadas da periferia de Maceió que foram atendidas pelo OAB/AL em 2001 e que estão sendo acompanhadas, 60% delas passam por deficiências nutricionais e fazem uma refeição ao dia, tendo como conseqüências: retardo do crescimento fetal; a prematuridade no nascimento dos bebês, que chegam a pesar até 830 gramas, reforçando assim a manutenção da prevalência do baixo peso ao nascer; a disparidade de situação de saúde entre centro e periferia; as taxas de mortalidade por infecções perinatais durante o parto e pós-parto e o risco de óbito durante a gestação. Sem dúvida, as altas taxas de morbidade e mortalidade sempre estiveram associadas à gestação e parto em jovens na puberdade e na adolescência, agravando-se, hoje, pelo dramático aumento no número de gestações precoces tanto desejadas quanto indesejadas. É preciso prevenir, pois existe entre os adolescentes uma ignorância disseminada quanto aos riscos da atividade sexual desprotegida. Assim sendo, as escolas precisam ampliar o trabalho em torno da educação sexual e os serviços de contracepção, em parceria com as unidades de saúde, famílias e comunidades. Na realidade, os jovens não compreendem os perigos da gestação na adolescência, para a saúde da mãe e da criança, e das desvantagens de uma maternidade precoce para a mulher, em termos de status social, educacional e seu desenvolvimento. Crianças famintas, parindo crianças subnutridas. (*) É ADVOGADO E PRESIDENTE DA COMISSÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DA OAB