Opinião
Serra Lisa - sentinela permanente de Chã Preta
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Do alto da serra, ainda sob o fina e tênue neblina do alvorecer surge imponente e não menos suntuosa a capela católica, em formato de pirâmide brilhantemente arquitetada, sob o orago perpétuo de São José, qual fanal a guiar o povo ordeiro de nossa Chã Preta.
Os ventos ululantes que sopram amiúde por entre os galhos esverdeados nas copas das árvores, traz consigo o embalo solitário de viçosas palmeiras que adornam o frontispício daquele monumento desenhado pela natureza, nos seus quase 870 metros de altitude, feito muralha de longe avistada por olhares ainda que despretensiosos de viajantes e caminheiros.
Numa aquarela multifacetada onde os tons se misturam dando forma a paisagem nativista e não menos bucólica, o vermelho do entardecer por entre as matas virgens do lado do poente, é um irrecusável convite a mergulhar em sonhos, feito poeta a se inebriar no mistério das palavras.
A Serra do Cavaleiro, há muito guarda consigo a história de nossa gente, desde os remotos tempos do período colonial brasileiro, quando ainda habitada por ameríndios de etnia tapuia e cambembe, foram contemporâneos de negros fugitivos que ali também povoaram por décadas, desde 1645 quando neste solo pedregoso pisou a tropa holandesa do Capitão John Blaer, em busca do Velho Palmares, que antecedeu a Cerca Real dos Macacos, na atual Serra da Barriga em União dos Palmares. Transcorrido quatro décadas (1977-2020) da primeira celebração religiosa no cume da serra, há época tendo como protagonistas os chã-pretenses Gildate Góes, Salete Pimentel, Mauro Teixeira, Florêncio Teixeira dentre outros, sendo os celebrantes os reverendíssimos padres Luiz Marinho e Manoel Henrique de Melo Santana, a devoção popular faz com que ainda hoje as lembranças pretéritas se materializem, cujo enredo novamente acontece, desta feita sob a égide de outros personagens idealizadores – Áureo Mazony Teixeira, Ari Vasconcelos e Olegário Venceslau. E a sentinela permanente cognominada Serra Lisa, se mantém de pé como a guardar estas terras, e testemunhar nossa história inebriada de tradições e lutas, qual fanal no cimo do rochedo, a guiar-nos sob a luz ofuscante que mostra o caminho a ser percorrido, com destino aos portos seguros da vida.