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quarta-feira, 30/07/2025 | Ano | Nº 6021
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Conhecimento e ignorância

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O conhecimento e a ignorância não são cativos da escolaridade ou da formação das pessoas. Em sua peça Édipo Rei, Sófocles (496-406 a. C.) já lamentava: “Como é terrível conhecer, quando o conhecimento / Não favorece quem o possui!”. Há 2.400 anos, isso já era abominável; agora, em pleno século 21,quando o planeta se vê ameaçado por uma pandemia do Covid-19, com mortes às pencas, e a sobrevivência de uma parcela significativa da humanidade depende unicamente do conhecimento científico, um ministro da Saúde do Brasil é maltratado, frito, cozido e demitido pelo presidente da República, unicamente por ter conhecimento e por utilizar esse conhecimento para salvar o maior numero de vidas possíveis.

Não foi somente a ignorância do presidente da República que o levou a tentar repetidamente desmoralizar Mandetta – sempre que o ex-ministro recomendava publicamente a utilização da única arma efetiva recomendada pela OMS contra a pandemia, o distanciamento social, ele imediatamente tentava o desmoralizar, indo para à rua e promovendo aglomerações histriônicas. Foi também outra emoção humana ainda mais indigna e desprezível. A inveja o fez afastar um ministro técnico, que ganhou a confiança dos brasileiros na maior de suas crises nos últimos 100 anos, castigando também todos os brasileiros que confiavam no ministro e na sua valorosa equipe. Mandetta sai muito maior do que entrou. Essa novela de horrores promovida sadicamente pelo presidente da República para depor o ministro cuja condução do combate à pandemia alcançou 76% de aprovação entre os brasileiros foi uma longa e torturante passagem da vida nacional e ocorreu justamente quando toda a população brasileira (e mundial) se encontra insegura e apavorada. Foi uma página negra e lamacenta da vida e também da morte no País, que ficará na memória coletiva e será registrada para sempre na história nacional como uma das suas passagens mais vergonhosas e deprimentes de toda uma longa tradição de vergonhas e baixarias brasileiras. Bolsonaro prometeu em sua campanha que faria um ministério técnico, e foi um técnico competente que conseguiu na vigência da pior crise de seu governo e de todos os governos do mundo, ganhar a confiança e o apoio da população, por aplicar medidas técnicas respaldadas mundialmente, que o presidente da República tentou desmoralizar e demitiu, utilizando-se também daqueles fanáticos devotos que aplaudem e cultivam todas as suas vilanias, sejam quais forem, entre elas, a extraordinária ignorância. Isso não é política, isso é um culto, uma seita de um falso Messias e um grupo de fiéis e devotos inconscientes e irracionais, prontos a segui-lo até as últimas instâncias, sejam quais forem. A ignorância, essa besta medieval, é extremamente cruel, porque não está restrita aos desprovidos de instrução, que instintivamente, podem ser muito sábios e prudentes. A pior ignorância, a ignorância completa, é aquela que habita aqueles que têm algum conhecimento e formação, e que, por presunção e vaidade, ignoram o básico: o valor da vida humana. Como afirmava Goethe: “A ignorância que se conhece, se julga e se condena não é uma ignorância completa: para que o seja, é preciso que ela ignore a si mesma”.

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