Opinião
Paróquia de Viçosa: 185 anos de fé
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“As matas farfalhando nos penachos das suas palmeiras; as águas marulhosas do Paraíba rolando a sua espuma de prata; o esforço das montanhas esfumando-se ao longe no horizonte...”. A aquarela multicolorida pintada pela pena fulgurante do historiador Alfredo Brandão, numa descomunal narrativa cujo saudosismo transpassa os umbrais do tempo, transportando os leitores a um pretérito longínquo, mais que secular, duma Viçosa campesina sobretudo arraigada as tradições religiosas, legado indelével de seus colonizadores católicos. A velha cruz de madeira no descampado erigida, cuja piedade divina ali se fazia visível, qual sinal de salvação aos homens nesta terra comum, dava um eloqüente testemunho de fé àquela incipiente comuna nativista, sob os olhares contemplativos do padre Manoel Caetano, sacerdote de escol e não menos precursor do catolicismo nas vielas estreitas e sinuosas do Riacho do Meio – a posteriori Assembléia e Viçosa.
A história de Viçosa há muito se confunde com sua relação devocional ao Senhor Bom Jesus do Bonfim, cujo orago perpétuo lhe rendeu o titulo inconteste de excelso padroeiro, quando ainda no inicio do século XIX (1818) o casal João da Silva Cardoso e Tereza Maria Fiúza nem gesto de profundo desprendimento doam parte de seu patrimônio no afã de erguer um templo em honra ao santo. Após quase três décadas desde a construção da velha capela no descampado da nascente cidadela cambembe, por determinação da Resolução nº 08 cuja data remonta aos 10 de abril de 1835, é criada a freguesia de Imperatriz (União dos Palmares) e Assembleia (Viçosa), sob a égide do então Presidente da Província José Joaquim Machado de Oliveira. Sob o patrocínio do Senhor Bom Jesus do Bonfim, ascendia entre o riacho do Meio e as densas florestas do vale do Paraíba a novel paróquia que abrigou em seu seio durante quase dois séculos inúmeros sacerdotes, cuja vocação ministerial elevava o prestígio da igreja entre o povo. As velhas ruas testificam das incontáveis procissões, em que os mesmos a frente da grande turba cantavam e rezavam feito pastores guiando o rebanho às paragens verdejantes, cujos nomes foram eternizados nos anais da história viçosense, gravados em letras garrafais nas páginas empoeiradas dos livros de tombo daquela freguesia: Padre Manoel Joaquim da Costa, Padre Jacinto Messias Feijó, Padre José Teixeira de Melo, Padre Francisco de Barros Loureiro, Padre Manoel Firmino Pinheiro, Cônego Durval de Oliveira Góes, Monsenhor Cândido Ferreira Machado, Cônego Severiano Jatobá, Padre Luiz de Medeiros Marinho, Padre Cícero Leite da Cruz, Padre José Monteiro de Almeida, Cônego Severino, Padre Geison de Araújo, dentre outros. Na passagem dos 185 anos de criação da paróquia, os fiéis do Senhor Bom Jesus do Bonfim se inebriam com as bênçãos de seu padroeiro, cuja devoção católica se transubstancia em argamassa indestrutível, atualmente sob o pastoreio de Padre Fernando Bezerra, cujo sentimento de gratidão é uníssono, fazendo coro ao hino do centenário da paróquia de Viçosa: “Cruz que formaste a nossa história/ um centenário tens de glória/ marco de fé, cruz da esperança/ em ti Viçosa, tudo alcança/ a tua sombra, ó relicário/ vibrou feliz o centenário. [...] Senhor, Senhor do Bonfim/ protege-nos sempre assim/ um novo século de rosa/ de amor, de crença e de luz/ separa-nos pra Viçosa/ nascida a sombra da cruz”.