Opinião
Amor e ódio na pandemia
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G. G. Byron escreveu : “O ódio é o prazer mais duradouro; os homens amam com pressa e fugazmente / Mas odeiam pausada e demoradamente”. Nessa semana, em um grande hospital de Maceió, um colega médico que estava na linha de frente da guerra contra a Covid-19, e se destacava por sua qualificação e dedicação extremas, viu o seu pai ser acometido pelo vírus, o seu estado clínico agravar-se rapidamente e a sua ida para a UTI em poucas horas, As UTIs lotadas e o acesso difícil foram um trauma a mais. Poucos dias depois, o colega também foi acometido, afastado, e ele, que cuidava de tantos casos, não pode acompanhar o seu pai.
Em hospitais de Maceió a maioria dos leitos de UTI já estão ocupados por pacientes com Covid-19. E o afastamento dos profissionais de saúde contaminados pelo vírus é elevadíssimo, enquanto as suas reposições são extremamente difíceis: são profissionais especializados como os das UTIs. As portas de suas emergências podem cerrar-se, por mais que isso seja doloroso. Podem até ter leitos, mas não há profissionais qualificados para tal. Paralelamente, a situação dos gestores de saúde pelo País ficou ainda mais difícil, pois o novo ministro da Saúde, o Dr. Nelson Teich, renomado profissional, infelizmente, não consegue estabelecer uma diretriz de saúde assertiva e suficientemente orientadora, pois fica espremido entre atender às necessidades da ciência e das vidas que se perdem e a obrigação de agradar ao presidente Bolsonaro. Dos equipamentos prometidos pelo ministério da Saúde aos estados para o urgente combate ao Covid 19, como os respiradores, só 11% deles foram entregues. A pandemia avança celeremente em sua trilha funérea, leva muita angústia, desespero e pânico aos hospitais e aos profissionais. As mortes aproximam-se das 6 mil, além dos casos fortemente sugestivos mas não diagnosticados e levados ao óbito, que são pelo menos 5 a 7 vezes maiores. Esses profissionais de saúde, que enfrentam as ameaças às suas vidas e às de suas famílias, demonstram inquestionável amor à profissão e solidariedade social; eles necessitarão de grande apoio e incentivo para persistirem nessa desgastante luta. Igualmente submetidos à essa hercúlea tarefa estão os profissionais de segurança, da limpeza, do transporte público, da comunicação e muitos outros que respeitam os seus compromissos e os cumprem com dignidade. Imensamente diferente do Sr. Presidente da República, que persiste inclementemente em sua marcha de absoluta insensibilidade e desprezo com as vítimas da tragédia, com as suas famílias, com o crescente aumento de vítimas fatais, com os profissionais de saúde e com todos os demais envolvidos nessa guerra. Suas manifestações desumanas e imorais, como aquela em que, ao ser confrontado com o número de mortos, os mais de 5 mil, respondeu: “E daí? Não faço milagres! “Um milagre verdadeiro, Senhor Presidente, seria o senhor não se preocupar só com bem-estar e o conforto dos seus filhos e protegê-los a todo custo das investigações da Justiça, mesmo que para tal precise aparelhar a Polícia Federal. Milagre seria o senhor não causar uma confusão institucional desnecessária diariamente, proporcionando dantesca instabilidade pública em plena pandemia; milagre, seria o senhor não incitar constantemente o ódio contra as instituições nacionais entre os seus súditos radicais. O maior milagre, Senhor Presidente, seria Vossa Excelência mostrar um mínimo de empatia pública e destilar um pouco menos de ódio por apenas um dia, mas esse milagre é totalmente inviável. O ódio tem sido, sempre, o seu mais fiel e cultivado sentimento, e sem ele dominando-o, o senhor presidente Bolsonaro não consegue respirar, não consegue sobreviver.