Opinião
Coleção de “fake news”
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Notícias falsas nos remetem a tempos remotos, como atesta o professor da Universidade de Harvard, Robert Darnton, ao citar relatos sobre Procópio, historiador bizantino e suposto autor do que talvez tenha sido uma das primeiras “fake news” da humanidade. O texto “anekdota”, que demoliu a reputação do imperador Justiniano.
Na linha do tempo, há ainda indicativo mais longínquo de outro suposto propagador de lorotas, o Faraó Ramsés, a quem foi atribuído o papel de autopromoção, com fantasiosa imagem de grande guerreiro. De registros seculares ao dramático momento em que vivemos, há quem não se compadeça com o próximo, e viva a industrializar boataria digital para espalhar discórdia e dissimulação. Diante da Covid-19, o Legislativo aprovou projeto que multa quem usar meios eletrônicos para divulgar falsidades sobre pandemias, endemias e epidemias.
A sanção depende de Renan Filho, que, à primeira vista, pode ter imaginado a consagração de um diploma legal contra sí próprio, pois seu governo já possui uma coleção de “fake news”.
A vida real do cidadão alagoano costuma manter considerável distância do universo digital alimentado pelo instagram do governador. Senão, vejamos: é ou não uma “fake news” anunciar, em meio à pandemia, a “antecipação” da conclusão do Hospital Metropolitano para este mês de maio, quando o cronograma previa a entrega lá em 2018? Sobre atraso de obras, o governo repetiu a dose em relação ao Hospital de Campanha que Renan Filho prometeu entregar pronto no final de abril, mas só agora está sendo montado. E a Controladoria Geral do Estado, que tem a missão de auditar e corrigir irregularidades? Está sob suspeita, conforme órgãos externos de fiscalização, o que converte a dita transparência governamental em mais uma “fake news”. Por falar em transparência, é bom que Renan Filho faça o governo se movimentar no ritmo exigido pela urgência. E não venha mencionar falta de recursos, porque o governo federal está repassando mais de meio bilhão de reais para o Estado. Boa parte dessa bolada é de livre aplicação do governador. A vida exige pressa e resultados, sem “live” fantasiosa, enquanto que a cidadania espera uma prestação de contas cristalina, explicativa e sem zona cinzenta.