Opinião
A Covid-19: caminhos da Índia
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O pedido de demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, que nos últimos 15 meses defendeu o presidente da República, agindo como seu advogado, talvez seja o mais importante sintoma do desgaste da imagem da trupe conservadora e anticientífica de Jair Bolsonaro em tempos de pandemia. As denúncias mútuas entre ambos, nos fez esquecer que há um vírus mortal assolando a humanidade. É sintomático que essa reviravolta no governo se dê justamente nos dias em que a Covid-19 bate recordes de mortes no Brasil, registrando um salto para 750 mil casos e 40 mil óbitos, segundo as informações atualizadas pela Covidvisualizer.com
O presidente conservador entrou em rota de colisão com o PSL, seu ex-partido, com seus ex-aliados, como o Governador tucano de São Paulo João Doria (do “Bolsodória”) e Moro, bem como com os governadores dos demais estados no combate à pandemia. Enquanto governos estaduais buscam salvar vidas, o presidente busca salvar a economia e incentiva que cidadãos descumpram as recomendações da OMS e rompam o isolamento social para trabalhar, aumentando o risco de contaminação, que consequentemente levaria ao colapso do Sistema Único de Saúde devido à ocupação de seus leitos. No mundo, merece destaque especial no cenário internacional da pandemia, o caso da Índia. No sul do país, o estado de Kerala achatou a curva de contágio, antecipando medidas de prevenção e combate ao vírus, investindo na saúde pública e monitorando infectados e suspeitos. Foi lá, ainda em janeiro, onde se registou o primeiro caso da doença no país. Em 16 de abril, o estado de 34 milhões de habitantes registrava apenas 3 mortes e 370 casos de infecção pela Covid-19. A estratégia foi simples, no primeiro caso da doença, a secretária de saúde do estado fechou aeroportos e passou a monitorar os passageiros. Apresentados os sintomas, submetem-se ao teste e caso dê positivo, são colocados em isolamento com auxílio da polícia e de funcionários públicos. A primeira morte por Covid-19 naquele país, ocorreu em 12 de março, no estado de Karnataka e imediatamente o ministro-chefe de Kerala, Pinarayi Vijayan, do Partido Comunista da Índia, suspendeu as aulas, recomendou que se evitasse locais de culto, proibiu aglomeração, passou a usar a mídia apenas para tratar do que é ligado à pandemia, montou um sistema telefônico para saúde mental, ordenou que servidores de internet aumentassem os pacotes de dados e garantiu o alimento das crianças que dependem da merenda escolar. Para especialistas da BBC, o sistema de saúde pública do estado foi fundamental para a obtenção de resultados positivos, contando com unidades de saúde administradas em parceria com comunidades locais, facilitando o rastreamento e confinamento de pessoas infectadas ou suspeitas, com o apoio de lideranças comunitárias. O primeiro-ministro populista de direita, Narendra Modi, não agiu com a mesma intensidade e não classificou a pandemia anunciada pela OMS como emergência sanitária, preocupando-se com a economia.