Opinião
É preciso saber viver
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“Quem espera que a vida seja feita de ilusão pode até ficar maluco ou morrer na solidão. É preciso ter cuidado pra mais tarde não sofrer, é preciso saber viver ...”
A homenagem aos cinquenta anos de carreira do grande compositor e cantor Erasmo Carlos, no programa Altas Horas, foi mais uma evidência do que a música é capaz de transmitir e até onde ela pode nos levar. Não pude conter as lágrimas ao ser transportado aos bons tempos da Jovem Guarda. “É uma brasa, mora”, expressão maluca, sem sentido nos tempos de hoje. Entretanto, na década de sessenta, era o máximo! Quando Roberto Carlos abria o programa, juntamente com Erasmo (o Tremendão) e Vandeca, era uma verdadeira festa de arromba. Um desfile de ídolos que marcaram nossa juventude e que fazem parte de nossa história, gravados em nossa memória afetiva. Na televisão, com imagem em preto e branco, desfilavam Martinha, Jerri Adriani, Wanderley Cardoso, Ed Wilson, Demétrius e grupos como Renato e seus Blue Caps, Jet Blacks, Golden Boys, dentre tantos outros que brilharam naquela época. O Rock brasileiro recebia a influência dos Beatles, e o Twist, e o Iê Iê Iê, com seus passos ousados, invadiam os salões provocando uma mudança radical no ato de dançar e vestir. Calças Boca de Sino, sapatos Cavalo de Aço, para os meninos e saias rodadas para as meninas, que permitiam mostrar um pouco das , em alguns movimentos e passos das novas danças, são parte das boas lembranças trazidas de volta à memória, embaladas pela música. Quantos flertes aconteceram ao som de Gatinha Manhosa, ao dançar com o rosto colado, que era o máximo da ousadia permitida naquela época, nos assaltos e tertúlias? Sob os olhares invejosos dos amigos, percebendo as tentativas de conquista dos brotos, onde os mais afoitos, os que não tinham medo de levar um corte das damas, arriscavam e conseguiam dançar uma música, às vezes duas ou, quando dava certo, a noite inteira. Aí então, já era um compromisso, quem sabe até permanecer de mãos dadas, ao final da dança, seria certamente, o início de um namoro. E como era bom namorar! Através de bilhetes, cartas de amor, ou de recados enviados pelas amigas alcoviteiras eram marcados os novos encontros. Um sorvete, um cinema com a turma, uma aparição, aparentemente casual, na porta da escola eram as formas possíveis de se conseguir namorar naqueles bons e saudosos tempos. Tudo era difícil e, talvez por isso, muito mais valorizado. Um simples olhar, um leve sorriso e uma música que lembrasse os bons momentos eram suficientes para provocar uma noite de sonhos. Terminou o programa, e o meu sono, com ele foi embora deixando um turbilhão de lembranças e de doces recordações. Liguei o som, não o da vitrola daquela época, mas um atual Mp3, e ouvi sua música, Erasmo,que atravessa o tempo e o espaço e que termina dizendo: “...Se há pedras no caminho, você deve retirar. Numa flor que tem espinhos você pode se arranhar. Se o bem e o mal existem, você pode escolher. É PRECISO SABER VIVER.