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Uma presidência exemplar

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Montesquieu afirmava que o grau de civilidade e de desenvolvimento humano de uma nação não poderia ser dado pela qualidade de suas leis, mas sim como elas são cumpridas e respeitadas por todas as camadas da população. O respeito às leis, a coesão social e a redução das grandes desigualdades sociais estariam na raiz do sucesso de sociedades que obtiveram alto grau de qualidade de vida e de altos níveis de felicidade, como as nórdicas europeias, simbolizando na Dinamarca, onde o grau de felicidade da população atinge altos níveis mundiais, ao contrário do Brasil, onde cada vez se toma mais ansiolítico e antidepressivo, conforme o Dr. Milton Hênio registra. Essas sociedades europeias adotaram o Estado de Bem-estar social, flagrante contraste com o Brasil, onde Roberto da Matta, antropólogo professor da UFRJ ,autor de Carnavais, Malandros e Heróis, ainda fica estupefato ao ver acontecimentos recentes e avalia que “o brasileiro acha que obedecer é sinônimo de inferioridade”. O brasileiro tem uma reação violenta ao elemento básico da democracia, que é a igualdade. Para brasileiro, quem manda, dá ordens. Obedecer é sinal de inferioridade. Isso ficou bem claro no caso do desembargador de São Paulo que se recusou a acatar a ordem do guarda municipal, que ele julgava ser inferior. Muitos episódios desse subdesenvolvimento cultural explodiram acintosamente nessa pandemia. A dificuldade de lidar com o coletivo também é citada pela antropóloga Ilana Strozenberg, professora da UFRJ: “A ideia de cidadania é complicada no Brasil. Na história, as leis nunca foram iguais para todos. Existe uma dificuldade de lidar com o coletivo se ele for igualitário. A nossa sociedade está arraigada num comportamento pautado pela desigualdade.

Para o brasileiro, uma marca de status é justamente não ser obrigado a respeitar regras. Um exemplo grosseiro desse comportamento foram as carreatas antidemocráticas que desprezavam e repudiavam o distanciamento social: seus participantes exigiam que os trabalhadores fossem laborar nos transportes coletivos lotados e altamente contaminantes, mas eles pregavam isso do interior refrigerado, seguro e socialmente distanciado de seus carrões e no seu desapreço pelos brasileiros mais desfavorecidos. Para a busca de civilidade na cultura pré-iluminista nesse Brasil das carteiradas, das vantagens indevidas e indecentes para membros da própria família ou apaniguados, o Brasil vai precisar de muito, de contínuo esforço e, principalmente, de exemplos concretos vindos de seus mais altos escalões. Sêneca ( 55 a. C- 39), alertava: “O caminho da sabedoria é longo através de preceitos, breve e eficaz através de exemplos”. Desse modo, quem precisa dar os exemplos é o supremo mandatário da Nação. Na atual pandemia de Covid19 dos 85 mil mortos até agora, esse nunca foi o caso. Nessa luta ferrenha contra essa cultura subdesenvolvida de autoridade não respeitar as leis em vigor, esse comportamento de se achar superior e não precisar cumpri-las, jamais poderá ser associado ao CONSERVADORISMO.

Segundo Edmund Burke, referência suprema do conservadorismo, todos devem respeitar as instituições submetidas “aos testes dos tempos”, como o Judiciário e a legislação dele emanada. Descumpri-las ou atentar contra os que trabalham para o seu cumprimento é adotar comportamento revolucionário, reacionário, ou simplesmente inconsequente em relação à sobrevivência das instituições, base de sustentação do conservadorismo. Um presidente da República que se esmere pessoalmente no cumprimento das leis e na civilidade, tornar-se-á um exemplo histórico nacional.

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